Arquidiocese de Braga reconhece que Igreja “falhou no seu dever” após casos de abuso sexual em Joane

O comunicado surge após a investigação do Jornal i/Nascer do Sol revelar os casos de abuso sexual perpetuados pelo Cónego Manuel Fernando Sousa e Silva, na igreja de Joane, em Braga. 

Na sequência de uma investigação levada a cabo pelo Jornal i/Nascer do Sol sobre os casos de abusos sexuais na igreja de Joane, a Arquidiocese de Braga reconheceu que a Igreja “falhou no seu dever de proteger os mais frágeis e vulneráveis”.

“É com dor e sofrimento que a Arquidiocese de Braga tem vindo a acompanhar, nestes últimos dias, através da comunicação social, o relato de homens e mulheres vítimas de abusos por parte do Cónego Manuel Fernando Sousa e Silva”, começou por dizer a Arquidiocese de Braga em comunicado divulgado este sábado no site oficial.

“A comunidade paroquial tem sido sujeita a uma forte exposição mediática que reaviva memórias dolorosas, mas que contribui para trazer à luz factos que nunca deveriam ter acontecido. Reconhecemos que, neste caso, a Igreja falhou no seu dever de proteger os mais frágeis e vulneráveis”, considerou.

Na mesma nota, a Arquidiocese de Braga referiu ainda os factos que são tidos em conta para “apurar a verdade”.

Segundo a Arquidiocese, a Comissão de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis da Arquidiocese de Braga (CPMAV) recebeu em 21 de novembro de 2019 uma denúncia por parte de uma vítima, “relatando ter sofrido abuso sexual por parte do referido sacerdote”.

Esta vítima referiu a existência de outras vítimas. “Dentro dos limites das suas competências”, a Comissão iniciou diligências para identificar estas e outras possíveis vítimas, “mas sem sucesso”, explicou.

“Dois anos mais tarde, chegou à Comissão mais uma denúncia. Ambas as vítimas foram acolhidas e acompanhadas pela CPMAV. Confrontamo-nos, agora, com o elevado número de casos relatados pela Comunicação Social”, admitiu.

A CPMAV enviou relatórios às duas denúncias à autoridade eclesiástica competente, de acordo com a Arquidiocese, resultando na criação de uma Comissão de Investigação Prévia pela autoridade do então Arcebispo de Braga, em janeiro de 2022.

“Em maio de 2022, o atual Arcebispo de Braga enviou todos os elementos recolhidos para o Dicastério para a Doutrina da Fé”, apontou.

Em julho deste ano, a Arquidiocese, juntamente com o mesmo Dicastério, impôs “medidas disciplinares ao sacerdote em causa, a saber a necessidade de se abster de exercer publicamente o seu ministério sacerdotal e, de modo particular, a celebração pública dos Sacramentos da Eucaristia e da Reconciliação, devendo recolher-se num clima de oração, reflexão e penitência”.

“Reconhecemos que não conseguimos ser mais céleres no tratamento do caso e mais eficazes no acompanhamento das vítimas, o que lamentamos”, notou.

Devido à exposição de mais casos, à luz da reportagem do Jornal i/Nascer do Sol, a CPMAV vai disponibilizar “um serviço de escuta destinado a todos quantos desejem partilhar as suas dolorosas experiências”.

O serviço estará aberto na Paróquia de Joane, mas também terá acesso por via telefónica ou por correio eletrónico. “Os novos testemunhos que, entretanto, possam chegar à Arquidiocese poderão permitir uma leitura mais completa do caso e possivelmente justificar novos procedimentos”, observou.

{relacionados}