Pensa que conhece a Arábia Saudita? Pense outra vez.

O turismo religioso é importante e traz para o mundo saudita 60 milhões de peregrinos – serão muitos mais com a nova visão empreendedora de MBS.

No passado dia 23 de setembro, comemorou-se o dia nacional do Reino da Arábia Saudita. Uma excelente oportunidade para refletir sobre o que está a acontecer no interior de um player regional com ambição (e impacto) global.

O país está a mudar. De forma acelerada. Radical. É o Reino a reinventar-se em tempo recorde. Há uma nova Arábia Saudita que se apresenta pujante e moderna ao mundo.

A revolução, iniciada há alguns anos, tocou todos os quadrantes:  político, económico, espacial, ecológico e cultural.

O líder dessa revolução chama-se Mohammad Bin Salman.

A missão deste homem é ao mesmo tempo simples e transcendente: demonstrar que a Arábia Saudita pode ser muito mais do que o maior produtor de petróleo do mundo.

Os seus objetivos são claros: cimentar a força da Arábia Saudita não apenas na região, mas no concerto das nações.

A sua estratégia de afirmação política beneficia da autoridade espiritual e moral do Reino: é para o seu país que os muçulmanos olham e se orientam diariamente, quando por cinco vezes rezam de frente para Meca – a cidade santa, onde nasceu o Profeta Mohammad.

No Golfo Arábico, no mundo árabe e islâmico como um todo, MBS está a demonstrar cada vez mais o espírito de um líder moderno e aberto ao mundo.

A sua ascensão a líder de facto da Arábia Saudita não esteve isenta de percalços, normais para quem abraçou tão hercúlea missão. Ultrapassada a fase de aprendizagem, MBS está agora na fase de afirmação de uma liderança forte.

Os projetos de transformação do país são muitos, grandes e custam muito dinheiro. Porém, e ao contrário do que acontece noutras latitudes de procrastinação, todos estão a avançar a uma velocidade vertiginosa.

Olhe-se para o Projecto 2030, capaz de transformar a Arábia Saudita num hub mundial. Deixou de ser apenas um sonho longínquo, como parecia quando foi apresentado ao mundo no início de 2016.

Ou o Projecto de emissões zero para o ano 2050, já está em andamento e totalmente alinhado com a necessidade de um mundo neutro nas emissões de carbono.

Outro grande objetivo, é transformar o turismo religioso e incentivar os turistas não muçulmanos a perceber o que é a Arábia Saudita. E fazê-lo aproveitando o legado dos antepassados, percebendo que a presença árabe deixou uma marca forte na cultura e ciência ocidentais.

O turismo religioso é importante e traz para o mundo saudita 60 milhões de peregrinos – serão muitos mais com a nova visão empreendedora de MBS.

Os apoios a projetos de empresas estrangeiras fizeram com que o investimento externo crescesse abruptamente: 35 biliões de dólares no último ano.

Como é que Portugal vê esta nova Arábia Saudita?

Não está, não quer estar ou ainda não percebeu que o Dubai não é a capital do GCC.

Mohammad Bin Salman diz que os Emirados Árabes Unidos através do visionário Sheikh Mohammad Bin Rashid Al Maktoum pôs o “deserto” no mapa mundo.

Todavia, MBS quer mais para a Arábia Saudita – e duvido que não o consiga.

Os líderes em Portugal não querem ou não sabem aproveitar as dinâmicas da política externa no Golfo Arábico. Portugal, lamentavelmente, não conta.

Nunca um Primeiro-Ministro visitou a Arábia Saudita; nunca um Presidente da República visitou a Arábia Saudita.

Não temos relações com a Arábia Saudita. Isto quer dizer que não aproveitamos nenhuma oportunidade na região – para a qual os líderes mundiais e europeus não estão, evidentemente, a dormir..

Veja-se o amigo do Primeiro-Ministro António Costa, o Presidente Macron, que tem uma relação próxima com MBS e com todos os líderes do GCC (Kuwait, Qatar, Emirados Árabes Unidos, Omã e Bahrain).

Portugal não quer fazer mais ou não vê a região do golfo como estratégica.

É um erro. Devíamos fazer mais e alargar os nossos horizontes. Mas devíamos fazer mais para honrar o nosso legado árabe e islâmico – como Espanha sempre fez e faz.

Já tivemos uma visita de alto nível no passado recente em 2016, do Professor Azeredo Lopes e, do Secretário de Estado Jorge Costa Oliveira que não teve sequência – estiveram com MBS mas não materializaram as intenções.

Precisamos de ação, não apenas de bons oradores na política e, pseudopolíticos.

Na altura, MBS estava a ascender ao poder. Agora perdemos o fulgor e corremos o risco de “saír” do mapa.

Quero terminar, felicitando o Reino da Arábia Saudita, a sua Alteza o Rei Salman Bin Abdul Aziz Al Saud , ao príncipe herdeiro e, partir desta semana indigitado Primeiro Ministro, Sua Alteza Príncipe Mohammad Bin Salman Al Saud e, em suma a todo o povo saudita um magnífico dia nacional.