Os italianos são mais atrasados que nós, tal como os suecos? Claro que não.
Portugal comparado com Itália na qualidade de vida material e imaterial, no poder económico, no desenvolvimento educativo e cultural, na sua massa crítica, equivale a comparar o Rio Tinto com o Porto. Nós, até para a União Europeia, pouco ou nada contamos; somos numa metáfora comercial, uma pequena tasca ao lado de grandes superfícies comerciais.
Mas imaginemos o que seria para a televisão do burgo e a maior parte dos jornais e partidos donos da democracia à portuguesa, a vitória de um partido ‘Irmãos de Portugal’ e com o lema ‘Deus, Pátria e Família’ ganhar por cá as eleições.
A SIC e a TVI passariam os seus estúdios simbolicamente para Grândola durante uma semana, os Marques, Daniéis e Lopes, os eixos da lusa terra e outros Tavares refugiar-se-iam no Chiado e declarariam este como zona livre de fascismo. O nosso Murdoch apareceria vestido de Zeca Afonso, o semanário do regime apresentaria um abaixo assinado pela democracia com os peticionários crónicos e o presidente Marcelo escreveria um editorial. A mulher de Saramago e mais três historiadores leriam poemas antifascistas duas horas antes do jantar e Guterres clamaria sobre o fascismo climático.
No Público entoar-se-ia diariamente a Internacional. Um exército de comentadores especialistas em generalidades e democratas encartados que pensam por nós deambulariam sem rumo pelas ruas. Pacheco Pereira diria algo grave sobre o tema e trezentas figuras da cultura embarcariam simbolicamente para o exílio enquanto recebiam cravos do edil Moedas.
Mas calma, isso não acontecerá tão cedo. O motivo tem nome, Mário Soares. É algo ainda não estudado.
Mário Soares, depois de Salazar, foi dos poucos portugueses superiores… Rodeou-se de gente como Almeida Santos, Medeiros Ferreiros e Gama, com uma capacidade acima da média. Para o bem e para o mal dominaram totalmente a narrativa do antes e depois de Abril e garantiram um Portugal socialista por cem anos. Entregaram parte de África à URSS e a regimes totalitários, o ‘antigo regime’ tão diabólico não conheceu grandes julgamentos e prisões tal como sucedeu depois com um movimento terrorista de extrema-esquerda. Resolveram as questões de Macau e das Lundas internamente. Entrámos também na União Europeia, à qual vendemos a nossa soberania, mas que só podemos dizer, ‘ainda bem, somos europeus’. E fundamentalmente, não meteram apenas o verdadeiro socialismo na gaveta, mas também qualquer possibilidade de direita e até de esquerda genuína. Na verdade, e é outro mito, os Adrianos Moreiras, Freitas, Sá Carneiros, etc., são fraquíssimas referências, obstáculos irrelevantes para Soares. Portugal seria socialista e resultou no que conhecemos.
O Portugal de Abril é hoje o Portugal de Ardil com a qualidade dos políticos que em nós mandam e que são precisamente escolhidos por nós.
Em Portugal não há o perigo fascista, mas há algo terrível, por pior que seja este socialismo que se confunde com o próprio Estado e o país, a oposição consegue ainda ser pior e mais tenebrosa.
Os também nossos democratas que têm destruído a democracia, nem com Itália precisam de ficar preocupados, os mercados e a União Europeia, plataforma dos mercados gerida pela Alemanha vergarão rapidamente a esta formulação de ‘extrema-direita’.