Dizia o escritor irlandês George Bernard Shaw que se os espelhos são usados para ver o rosto, a arte é usada para ver a alma. As possibilidades de definição de arte são infinitas. E, com o passar do tempo, parece-nos que não há mesmo como limitá-las a determinado estilo ou gosto. As barreiras entre os vários tipos existentes quebram-se e abraçam-se. Numa mesma sala, podemos viajar até ao passado, permanecer no presente, ou dar um salto até ao futuro.
E é exatamente isso que está a acontecer desde o equinócio de outono, 23 de setembro, no centro histórico de Alfama, que acolheu a exposição Entre les Mondes, em português, Entre os Mundos, o primeiro capítulo da D&A by V&T – projeto itinerante criado por Valérie Marendaz e Tatiana Gecmen-Waldek –, um conceito curatorial “para promover e divulgar a criação de vanguarda em design colecionável e arte contemporânea”. Patente até sábado, dia 8 de outubro, a exposição traça conexões inesperadas entre arte contemporânea, design colecionável e NFTs, entre obras tangíveis e intangíveis, entre o físico e o digital (In Real Life, Net-Art, RV, NFT).
Um diálogo entre mundos Segundo Marendaz, a exposição é “um espaço espaço de transição, um estímulo no limiar entre mundos, um lugar de junções que conectam universos artísticos, uma interceção de territórios numa perspetiva de contaminação mútua”. Ou seja, um ponto de encontro inédito entre mundos aparentemente separados da criação artística. “Esta é uma cooperação que fiz com uma amiga de longa dada e artista, Tatiana Gecmen-Waldek”, explica ao i.
Pioneira de tendências e caçadora de talentos, Valérie Marendaz fundou a plataforma artística – Do.N.e – que apoia e revela as estrelas em ascenção do design colecionável; já Tatiana Waldek-Gecmen é consultora de arte, descobre, apresenta e comissiona artistas contemporâneos para criação de conteúdos culturais. Além disso, enquanto artista áudio, também concebe e grava storytelling sonoro.
“Juntas trabalhamos nas artes imersivas e à vanguard, no contemporâneo. Decidimos então meter em conversa artistas nas artes visuais em geral. Portanto, estimamos que não há fronteiras nas artes, que tudo é uma expressão. É muito interessante colocar em diálogo um escultor, um pintor, um fotógrafo, ou um artista de vídeo e áudio. Misturar todos eles. É precisamente por esse motivo que a exposição se chama Entre os Mundos. Na verdade, atravessamos universos que normalmente estão separados. Decidimos juntá-los”, reforça.
A outra intenção das duas profissionais era apresentar esse trabalho num local que contrastasse com aquilo que iria ser exibido. “Acreditámos que escolher um palácio daria uma certa intimidade e contraste aos visitantes”, explicou.
Contraste entre o espaço e as obras Tomando como cenário um palacete histórico situado no coração de Alfama (um espaço abandonado que será brevemente reabilitado), no Largo de Santo Estêvão, e distribuída por dois pisos numa área de 400m2, Entre les Mondes apresenta obras de mais de 20 artistas internacionais emergentes da Europa mas também do Irão, da China e do Brasil.
Marendaz refere que, neste momento, há um fluxo importante de artistas do mundo inteiro “que cá chegam por escolha para apresentar os seus trabalhos”. “Tanto pela energia da cidade, como pela forma de viver. É uma cidade cada vez mais aberta e, por isso, achámos que faria sentido que a nossa estreia fosse aqui”, esclarece. “Temos 21 artistas incríveis, 12 salas espalhadas por dois andares. Em cada uma delas temos um diálogo entre vários artistas, onde vemos obras reais/ físicas e, ao mesmo tempo, arte conceptual, com realidade aumentada, por exemplo”, revela a curadora.
“A nossa intenção é introduzir novos corredores artísticos e explorar a sua ressonância. Eu e a Valérie Marendaz selecionámos artistas de diversas áreas, com diferentes suportes e formas de expressão únicas. Acreditamos que esta é uma estreia para Lisboa, uma cidade que permite ultrapassar fronteiras culturais e artísticas”, acrescenta Tatiana Waldek-Gecmen, numa nota enviada à imprensa.
Entre les Mondes, é, por isso, “uma abertura e uma revelação”. E este “episódio #1” não só “mostra o início da nova aventura que representa a D&A by V&T”, como “abre um espaço no tempo, um momento na efemeridade do contemporâneo e um lugar abandonado no centro histórico da cidade”, continua o documento.
A exposição pode ser visitada das 14h às 23h até ao próximo sábado, 8 de outubro (inclusive).