O nadador olímpico Michael Phelps, que conquistou, ao longo de toda a sua carreira, 60 medalhas, das quais 23 são olímpicas, tornou-se um dos grandes embaixadores mundiais em defesa da importância da saúde mental dos atletas.
Phelps, de 37 anos, um dos nomes que ficaram para sempre marcados nos anais mundiais da natação, já não pratica profissionalmente desporto, mas continua ligado ao meio, na saúde mental dos atletas. Phelps que, ele próprio, sofreu durante anos com uma depressão, escondendo-a dos meios de comunicação e do público geral.
Agora, no entanto, o norte-americano revelou a batalha que travou contra esta doença mental, dedicando-se a ajudar outros atletas que estejam na mesma situação em que já esteve. «Prefiro ter a oportunidade de salvar uma vida do que ganhar outra medalha de ouro porque defender a saúde mental é muito mais importante. Perdemos demasiados atletas olímpicos para o suicídio. Não quero perder mais nenhum membro da minha família olímpica», disse Phelps à AFP, numa entrevista no fórum Demain le sport.
Segundo foi sendo revelado, a depressão entrou sorrateiramente na sua vida em 2004, ano em que fez a primeira participação nos Jogos Olímpicos, em Atenas – conseguiu 8 medalhas, seis delas de ouro. Falar do assunto não era opção, no entanto, revelou que chegou a ter dias em que não queria estar, sequer, vivo.
«Competir foi uma das minhas coisas favoritas. Eu era um tubarão e cheirava sangue na água e continuava. Na altura não quis falar abertamente sobre a minha saúde mental, porque temia que essa abertura fosse vista como um sinal de fraqueza ou uma vantagem para a concorrência. Passei por um período em que não queria estar vivo», revelou o atleta olímpico na mesma entrevista, onde saudou os atletas que, nos últimos anos, falaram publicamente sobre as suas lutas com a depressão, nomeadamente a tenista Naomi Osaka, que se afastou dos courts durante cerca de um ano devido a este preciso assunto.
«Tenho de aplaudir a Naomi Osaka. Ela abriu as redes sociais e contou o que estava a passar. Isso não é a coisa mais fácil de se fazer», disse Phelps, nomeando, logo de seguida, a ginasta norte-americana Simone Biles, que foi também a protagonista, nos últimos anos, de uma campanha de sensibilização sobre o tema da saúde mental dos atletas. «Se olharmos para a Simone Biles, isso aconteceu com ela no maior momento da carreira. Mostra como uma doença de saúde mental é inesperada. Precisamos de cada vez mais pessoas que se estão a abrir para partilhar, para baixar estas paredes, estes limites que as pessoas construíram», sublinhou Phelps, confessando que, ainda hoje em dia, trava uma luta contra esta doença.
«Há dias em que acordo e me sinto ótimo e, no dia seguinte, posso acordar e ser um humano completamente diferente, por isso é só tentar encontrar esse equilíbrio. Esta vai ser uma viagem contínua que poderá nunca ser resolvida», concluiu o medalhista olímpico.
Ainda no universo do ténis, deu que falar este ano o caso de Ashleigh Barty. A australiana apanhou tudo e todos de surpresa quando anunciou a retirada aos 25 anos. Líder do ranking mundial desde 2019, a australiana revelou ter sofrido de depressão, razão pela qual chegou a estar medicada durante dois anos.
CR7 procura ajuda
Ao mesmo tempo que o mundo ficava a conhecer as lutas de Michael Phelps contra a depressão, o assunto tocou também num nome mais ‘próximo’ de Portugal. Cristiano Ronaldo, o craque madeirense que é considerado por muitos como o melhor jogador de futebol do mundo, terá pedido ajuda a Jordan Peterson, um famoso psicólogo do Canadá. Peterson revelou, num programa de televisão norte-americano, que Cristiano o convidou para ir a sua casa. «Ele estava com alguns problemas há uns meses e um amigo dele enviou-lhe alguns dos meus vídeos. Quis falar comigo, estivemos à conversa durante umas horas. Ele queria, sobretudo, falar sobre o que deseja para o futuro e também sobre alguns obstáculos que está a enfrentar neste momento», afirmou Jordan Peterson. Recentemente também o surfista português Vasco Ribeiro anunciou que irá estar fora das competições durante algum tempo, revelando que chegou a altura de pedir «ajuda profissional» e de se focar na sua saúde mental. «Enquanto estamos a ganhar tudo parece fácil, e muitas vezes não nos apercebemos do quão difícil é a vida de um atleta de alto rendimento. O último ano tem sido bastante desafiante, e tem vindo a piorar de uma maneira que eu sozinho já não estava a conseguir gerir. Tinha pouca vontade para fazer as coisas que me são mais importantes, e, por isso, chegou a altura de pedir ajuda profissional para conseguir voltar um dia a lutar pelos meus sonhos», escreveu a 12 de agosto, na última mensagem publicada nas redes sociais. Vasco Ribeiro, que se sagrou campeão nacional nas diferentes categorias, campeão europeu e campeão mundial júnior, explicou que sempre teve o sonho de entrar no World Tour e vencer o título mundial.