Os mais recentes ataques da Rússia a Zaporizhzhia, cidade onde se encontra a maior central nuclear da Europa, sob o poder dos russos, fizeram pelo menos 11 mortos, soube-se depois das autoridades terem descoberto novos cadáveres resultantes da ofensiva desta quinta-feira.
Os serviços de emergência ucranianos afirmaram que recuperaram os corpos de oito civis dos escombros de um edifício residencial e o secretário do conselho municipal de Zaporizhzhia, Andrii Kurtiev, revelou que pelo menos 15 pessoas ainda estão desaparecidas.
O chefe da administração militar regional da cidade, Oleksandr Starukh, afirmou que pelo menos 21 pessoas foram resgatadas e que existem equipas ainda no terreno a trabalhar para encontrar sobreviventes.
«Não há objetivos militares importantes perto do local atingido, apenas prédios civis e apartamentos», explicou Starukh.
Esta nova ofensiva russa, que terá sido feita com recurso a drones, foi descrita como uma «chantagem nuclear» pelo Presidente ucraniano.
«A captura da central nuclear de Zaporizhzhia representa uma chantagem nuclear e a tentativa de exercer pressão sobre o mundo e a Ucrânia», disse Volodymyr Zelensky, citado pelo Guardian. «Podem até nem estar a usar as armas, mas ainda assim podem estar a chantagear ao não ter ninguém trabalhar na central nuclear. As pessoas não estão a receber eletricidade», explicou.
A Rússia capturou esta central nuclear em março, pouco depois de invadir a Ucrânia, e o Presidente Vladimir Putin ordenou, esta quarta-feira, que o seu governo assumisse o controle total sobre suas operações.
A central de Zaporizhzhia é a maior da Europa e, até ao momento, é a equipa técnica ucraniana que continua a operá-la, apesar da ocupação do local pelas forças russas.
Reagindo às acusações do Presidente ucraniano, o Kremlin afirmou estar «totalmente comprometido» em não permitir que aconteça uma guerra nuclear.
«Não pretendemos participar nesse terrível discurso dedicado a empolar a retórica nuclear. O grau aumenta cada vez mais, mas isso deve-se a estruturas e países centrados na NATO», disse a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Maria Zakharova, em conferência de imprensa.
Estas afirmações chegam depois do chefe da diplomacia da União Europeia (UE) ter considerado que a guerra na Ucrânia entrou «numa fase perigosa» devido ao «cenário assustador» desencadeado pela ameaça nuclear.
«A guerra continua e as notícias do campo de batalha são boas para a Ucrânia. A Ucrânia está a voltar à ofensiva, [mas] a guerra entrou numa nova fase, uma fase que é sem dúvida perigosa porque estamos perante um cenário assustador, ao qual não devemos fechar os olhos», assinalou Josep Borrell.
Controlo das áreas anexadas
A Rússia já não detém o controlo total sobre nenhuma das quatro províncias anexadas na semana passada, Donetsk, Luganks, Kherson e Zaporijia, depois das tropas ucranianas avançaram dezenas de quilómetros em Kherson e de obterem ganhos adicionais no leste.
Os militares russos reconheceram, esta terça-feira, que as forças de Kiev invadiram a região de Kherson, no sul da Ucrânia, acrescentando que as «unidades de tanques superiores» conseguiram «penetrar nas profundezas da defesa» russa em torno das aldeias de Zoltaya Balka e Alexsandrovka.
Estes comentários estão a ser interpretados como uma confissão de que a contraofensiva no sul da Ucrânia está a ganhar um ritmo dramático, dois meses depois do seu início, escreve o Guardian.
As duas câmaras do Parlamento russo já ratificaram a adesão das quatro regiões ucranianas à Rússia, uma decisão condenada pela comunidade internacional e, esta terça-feira, o senado da Federação russa aprovou a incorporação. Estas regiões representam cerca de 18% do território ucraniano.
Contudo, parece ainda existir alguma confusão sobre onde foram traçadas as fronteiras das regiões de Kherson e Zaporijia.
A Rússia anunciou que vai «consultar» a população sobre a decisão, enquanto o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que ainda não foi tomada nenhuma decisão oficial sobre esta matéria nestas duas regiões.
Bielorrússia, Rússia e Ucrânia partilham Nobel
O Prémio Nobel da Paz foi, esta sexta-feira, atribuído em Oslo, na Noruega, ao ativista bielorrusso Ales Bialiatski e a duas organizações de direitos humanos – a russa Memorial e a ucraniana Center for Civil Liberties.
O Comité Nobel Norueguês escreve que os vencedores «representam a sociedade civil nos seus países de origem. Há muitos anos que promovem o direito de criticar o poder e proteger os direitos fundamentais dos cidadãos. Fizeram um esforço notável para documentar crimes de guerra, abusos dos direitos humanos e abuso de poder. Juntos, demonstram a importância da sociedade civil para a paz e a democracia».
O Comité quis «homenagear três destacados campeões de direitos humanos, democracia e coexistência pacífica nos países vizinhos Bielorrússia, Rússia e Ucrânia», que «através dos seus esforços consistentes em prol de valores humanistas, antimilitaristas e princípios de direito […] revitalizaram e honraram a visão de paz e fraternidade entre as nações de Alfred Nobel – uma visão mais necessária no mundo de hoje».