Muitas mães brincam e gozam entre si com os disparates e esquecimentos que começaram a suceder-se diariamente desde a gravidez. O chamado ‘mommie brain’ não é um mito. É bem real e nem sempre dá vontade de rir.
Às vezes parece uma demência precoce. Esquecemo-nos do que íamos fazer, do que íamos dizer, corremos o nome dos filhos até acertar no que queremos, não ouvimos o que nos dizem, não sabemos onde deixamos as coisas. Chega a ser aflitivo. Mas está longe de ser uma demência. Pelo contrário. Na verdade, o cérebro tem uma plasticidade que lhe permite adaptar-se e reorganizar-se durante a gravidez e o pós-parto. Passar a ser mãe implica uma série de aprimoramentos como por exemplo desenvolver uma atenção redobrada para o ser novo e dependente que aí vem, a capacidade de pensar e fazer mil e uma coisas ao mesmo tempo ou de descodificar e dar a resposta certa aos diferentes sinais e chamamentos do bebé. No fundo, a existência de um novo ser na nossa vida, que inicialmente depende totalmente de nós, implica uma completa mudança de paradigma. Seria impossível ficar tudo como antes. Seria impossível manter a atenção que se tinha para tudo o resto e juntar uma atenção acrescida para o que é prioritário, por isso é como se o nosso cérebro fizesse uma escolha e delegasse para segundo plano o que é acessório para assegurar o que é primordial e inadiável. No fundo é uma forma de garantir a sobrevivência da espécie.
Mas desengane-se quem tem esperança que isto desapareça no pós-parto. À medida que os filhos crescem, a dependência diminui e com ela alguns cuidados e o constante estado de alerta, mas em contrapartida surgem outras preocupações, outras tarefas, outras solicitações, muitas vezes associadas a uma longa privação de sono de qualidade, a horários complicados, a outros irmãos ou a uma constante correria. Quando temos uma série de tarefas e preocupações na cabeça, temos necessariamente de deixar cair alguma, que será a menos importante. Pode ser aborrecido guardar o telemóvel no frigorífico, como uma amiga fez um dia destes, mas talvez houvesse uma fila de assuntos mais importantes para atender naquele momento e por isso o telemóvel tenha ficado a refrescar.
Já me tinha acontecido muitas vezes andar à procura das chaves do carro com elas na mão, mas aqui há uns tempos estava já um pouco aflita à procura do meu filho mais novo quando o mais velho me pergunta o que estou a fazer. Quando lhe digo que estou à procura do irmão fica incrédulo a olhar para mim: o irmão estava ao meu colo. A preocupação de o encontrar era tanta que nem me apercebi do peso que carregava enquanto o procurava – na verdade, com filhos é um hábito andarmos carregados – mas pelo sim pelo não, na minha preocupação menos consciente, agarrava-o com força para não o deixar cair.
Muitas mães sentem-se a enlouquecer, a perder o controlo das suas capacidades, sentem-se diminuídas e perguntam-se até quando isso irá durar. A resposta não é clara, mas enquanto tiverem mais de uma dezena de tarefas para realizar em simultâneo, mais as outras 30 que têm agendadas para mais tarde, enquanto se preocupam com uma mão cheia de pessoas, não acertam os sonos, nem retomam a sua vida social, certamente não será fácil. Por enquanto é tentar manter a calma, rir destas peripécias do dia-a-dia e saber que não se está sozinho nesta pequena loucura saudável.