Irão condena Macron

Porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Irão considerou que as declarações do Presidente francês servem para encorajar ‘pessoas e agressores violentos’.

Por todo o planeta, multiplica-se a solidariedade com os manifestantes revoltados com a morte de Mahsa Amini, uma estudante curda de 22 anos, na sequência da detenção feita pela polícia de moral iraniana. Vários países deixaram claro querer o fim dos abusos de direitos humanos no pais dos aiatolas.

O que já causou um choque entre Paris e Teerão, cujo regime condenou as declarações de Emmanuel Macron, após o Presidente francês expressar solidariedade para com os manifestantes 

Foi na quarta-feira, durante um programa do canal de televisão France 2, que o líder francês mostrou a sua «admiração» pelas «mulheres» e «jovens» que se têm manifestado desde o dia da morte da jovem curdo-iraniana de 22 anos. E frisou: «Muito claramente, a França condena a repressão levada a cabo hoje pelo regime iraniano».

«Estamos ao lado daqueles que lutam por estes valores», insistiu Macron, sublinhando estar a «defender» e «apoiar» o que «está a acontecer no Irão». Têm-se visto inúmeras mulheres a ter a coragem de tirar em público os seus véus, de uso obrigatório no Irão, até a queimá-los perante a polícia ou a cortar o cabelo, um gesto típico do luto na cultura iraniana. 

Em resposta, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano, Nasser Kanani, veio a público comentar as declarações de Macron, considerando-as uma «interferência» que serve para encorajar «pessoas e agressores violentos».

Em comunicado, o responsável acrescenta que o Irão considera «surpreendente» que a França condene as forças de segurança iranianas que tiveram de lidar com «pessoas violentas e motins», ao mesmo tempo que ameaçou usar a força em resposta às greves dos trabalhadores do setor do petróleo e do gás em França.

De facto, Macron tem sido acusado de autoritarismo por requisitar trabalhadores de refinarias em França, propriedade da TotalEnergies e da Exxonmobile, forçando grevistas a voltar aos seus postos de trabalho devido à escassez de combustível causada pela paralisação de seis das sete refinarias francesas.

Ainda assim, dificilmente se pode comparar a força usada pela polícia francesa até agora com a brutalidade da polícia iraniana, que se pensa ter abatido mais de uma centena de manifestantes, segundo várias organizações não-governamentais. Estima-se que entre os mortos estejam cerca de duas dezenas de crianças. 

«Isto é uma hipocrisia», queixou-se o ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano. «Que prova mais uma vez que os direitos humanos, no dicionário de muitos governos ocidentais pretensiosos, não passam de um brinquedo e de uma ferramenta para atingir objetivos políticos e interferir nos assuntos de outros países», pode ler-se no comunicado.