38 dias depois, dez dos quais a política britânica esteve suspensa devido ao funeral da rainha Isabel II, Kwasi Kwarteng tornou-se o ministro das Finanças britânico que menos tempo sobreviveu no seu cargo, sendo afastado esta sexta-feira.
O primeiro ato de Kwarteng fora apresentar um desastroso orçamento intercalar, em nome do Governo de Liz Truss, oferecendo enormes cortes fiscais aos mais ricos, que seriam pagos com um aumento da dívida pública, resultando no afundar a libra, que quase desceu abaizo do dólar pela primeira vez. Também causou um brutal aumento dos juros da dívida, deixando fundos de pensões – que apostavam forte em títulos da dívida britânica, achando que era um ativo seguro – à beira do colapso.
«Durante demasiado tempo, este país foi perseguido por baixas taxas de crescimento e taxação elevada. Isso ainda precisa de mudar para este país ter sucesso», escreveu Kwarteng na sua carta de demissão, após a primeira-ministra exigir a sua cabeça. A justificação do Governo é que conseguiria contrabalançar a perda de receita com os cortes fiscais graças aos suposto crescimento que isso geraria – claramente os investidores não ficaram convencidos com isso.
Agora, a dúvida é se Truss conseguirá manter-se em no nº10 de Downing Street após a queda do número dois do Governo. Dificilmente a primeira-ministra conseguirá convencer o público que a culpa deste orçamento intercalar foi exclusivamente de Kwarteng. Não só tinha autoridade sobre ele, como ambos tinham visões ideologicamente muito semelhantes, eram uma espécie de «Batman e Robin», chegou a contar um amigo próximo de Truss ao Times, quando esta disputava a liderança dos conservadores.
Têm havido ataques de todos os setores, tanto dos trabalhistas como dos nacionalistas escoceses do SNP. Cuja líder, Nicola Sturgeon, exigiu a saída da primeira-ministra, que está «coxa», descreveu. No entanto, o poder para afastar Truss não está nas mãos da oposição, mas sim dos deputados conservadores. Vários dos quais expressaram que a primeira-ministra «não consegue sobreviver», à Sky News.
A primeira-ministra britânica, vista como a herdeira da ala dos conservadores liderada por Boris Johnson, fez uma clara tentativa de extender um ramo de oliveira à ala mais moderada, cética do Brexit, escolhendo Jeremy Hunt para novo ministro das Finanças. Só o tempo dirá se isso chegará.
Teoricamente, os deputados do seu partido só poderiam apresentar um voto de desconfiança em setembro de 2023, por terem afastado Johnson recentemente, mas essa regra pode ser alterada pelo comité 1922, que representa os deputados conservadores que estão fora do Governo.