Jeremy Hunt tomou as rédeas do ministério das Finanças britânico, começando por desfazer quase todo o desastroso orçamento intercalar apresentado pelo seu antecessor, Kwasi Kwarteng, que afundou a libra, aumentou os juros da dívida e quase causou o colapso dos fundos de pensões.
Daí que Hunt tenha anunciando na segunda-feira, perante o Parlamento, que tirou do orçamento boa parte dos cortes fiscais prometidos aos mais ricos, que seriam pagos com um aumento da dívida pública. Mas também serão revistos alguns apoios às famílias e negócios, que tinham como propósito ajudar a pagar as contas de eletricidade, dado que se antevê uma escalada brutal este inverno.
Já a chefe de Hunt, Liz Truss, está por um fio. Aliás, “já foi”, assegurou um antigo ministro conservador, em declarações à BBC, salientando que este anúncio do um recuo tão humilhante no orçamento “põe-no para lá da dúvida”. Aliás, até há indícios de que Truss só seja chefe de Hunt no papel, sugeria-se na imprensa britânica.
Se Truss era apontada como tendo herdado a ala afeta a Boris Johnson dentro dos conservadores, Hunt deu o seu apoio a Rishi Sunak na corrida à liderança. A suspeita é que a oposição interna, receosa de que mais uma disputa fratricida fragilize ainda mais o partido, possa ter aceite deixar a primeira-ministra como figura de proa, enquanto o antigo ministro da Saúde vai gerindo o espetáculo nos bastidores.
Tanto Truss como Sunak propunham cortes fiscais, tendo como diferença que a primeira estava disposta a pagá-los com o aumento da dívida, o segundo não. É esperado que agora o Governo siga a política da ala de Hunt e Sunak, uma espécie de austeridade clássica ao estilo de David Cameron.
Tecnicamente Truss não poderia ser alvo de uma rebelião dos seus deputados, pelo menos até setembro de 2023, dado terem derrubado há tão pouco tempo Johnson. Mas quem decide essas regras é o comité 1922, que representa os deputados conservadores fora do Governo, e que poderia facilmente mudá-las.
Os mercados financeiros reagiram bem ao anúncio de Hunt, com o valor da libra a subir em relação ao dólar e o preço dos juros da dívida a diminuir. Os conservadores bem precisam de um período de acalmia, para terem esperança de não ser obliterados nas próximas eleições, dado estarem com menos 29% de intenções de voto que os trabalhistas, segundo o Politico.