Foi um verão quente para o judo português que deixou resquícios. Em agosto, os judocas olímpicos enviaram à tutela do desporto uma carta aberta onde acusavam o presidente da Federação Portuguesa de Judo (FPJ) Jorge Fonseca de discriminação e clima de opressão. O conflito, obviamente, estalou e parece estar para durar a menos de dois anos dos Jogos Olímpicos de Paris 2024.
Nesse documento, criticavam os comportamentos desadequados para com os atletas de origem estrangeira, sobretudo luso brasileiros, referindo ainda o exemplo do judoca georgiano Anri Egutidze que foi impedido de falar a língua materna, e ficou fora de uma competição por represália. Assinaram a carta Telma Monteiro, Catarina Costa, Patrícia Sampaio, Rochele Nunes, Bárbara Timo, Anri Egutidze e Rodrigo Lopes.
Também Diana Gomes, presidente da Comissão de Atletas Olímpicos (CAO), afirmou que tem conhecimento de que há mais atletas descontentes com a gestão de Jorge Fernandes, além dos sete que assinaram a carta aberta.
Judocas em tribunal Como resposta, o presidente da federação disse que as acusações de que é alvo não foram provadas, e que os judocas que assinaram a carta terão esta semana para se retratarem ou serão levados a tribunal.
A carta só foi tornada pública, segundo os atletas, porque esbarraram na falta de compreensão, flexibilidade e sensibilidade do dirigente aos problemas apresentados pelos atletas.
Em causa está o facto da federação insistir na presença obrigatória dos judocas em Coimbra em 70 ou 80% dos 52 estágios previstos para esta época, ameaçando com a exclusão da equipa, caso os atletas falhem esse compromisso.
“Aquilo que foi uma boa solução durante o período em que a pandemia impôs a criação de uma bolha de treino, em Coimbra, é hoje um dos fatores em que discordamos” dizem. Para cumprir a exigência da FPJ, os atletas deixariam de fazer estágios internacionais e de treinar com os melhores do mundo, além de realizarem os estágios num local que, segundo eles, não tem condições, “durante o inverno chega a estar sete graus dentro do pavilhão”.
Dispensada por email Esta semana a tensão escalou com a dispensa da selecionadora nacional Ana Hormigo, na véspera da equipa viajar para competir no Grand Slam de Abu Dhabi, de apuramento para os Jogos Olímpicos. Este facto mereceu o seguinte comentário de Telma Monteiro, a judoca portuguesa mais medalhada de sempre.
“A federação despediu a treinadora Ana Hormigo, por email, no dia antes da equipa viajar! sem a equipa ou a própria saber de forma antecipada”. Recorde-se que Ana Hormigo estava solidária com os judocas, afirmando que “estão exaustos” e que “não querem estar sujeitos a um sistema que não se digna a ouvi-los”.
Sobre a dispensa da selecionadora nacional, o Benfica afirmou, num comunicado, que “Jorge Fernandes coloca o ego acima dos interesses da modalidade e, por isso, não é solução” e solidarizou-se com Ana Hormigo que é coordenadora da modalidade no clube. Para agravar a situação, o planeamento da época está em risco “os treinadores foram informados de que eu, como outros atletas, não temos verba do projeto olímpico para realizar o planeamento que tínhamos previsto“ referiu Telma Monteiro.
As acusações contra o presidente da FPJ não terminam aqui. Ontem, a judoca Yahima Ramirez garantiu que Jorge Fernandes a afastou dos Jogos Olímpicos do Japão por ter recusado assinar um documento, e disse que vai colocar a federação em tribunal. O presidente da FPJ refutou a acusação e disse que se não foi aos jogos foi por falta de resultados.
A ‘tempestade’ já chegou ao Parlamento e PS, PSD e BE querem ouvir as entidades ligadas ao desporto e o secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Correia, sobre as divergências públicas entre atletas e federação de judo.