Liz Truss conseguiu o feito de se demitir 45 dias após os conservadores a escolherem para primeira-ministra, mesmo tendo a política britânica estado parada onze dias pelo meio, devido ao funeral da Rainha Isabel II. Para ter noção do descalabro, basta pensar que é quase tão desprezada entre os britânicos como Vladimir Putin, em plena invasão da Ucrânia, saindo do cargo com um índice de popularidade de -70, segundo sondagens do YouGov. Mais uns dias, quem sabe, e talvez Truss ainda apanhasse o Presidente russo, nos -74 de popularidade. Comparativamente, a ideia de um regresso de Boris Johnson parece soar cada vez melhor a muitos conservadores. Estando o antigo primeiro-ministro a ponderar voltar a candidatar-se à liderança do seu partido, avançaram aliados próximos ao Guardian, apesar de ter saído do nº10 de Downing Street acossado por todos os lados, devido à revelação das sucessivas festas dadas pelo seu Governo em plena pandemia de covid-19.
Ainda esta quarta-feira Truss prometera ser “uma lutadora, não uma desistente”, quando gozada pela oposição em pleno Parlamento, devido à demissão do seu ministro das Finanças, Kwasi Kwarteng. Faziam um par descrito como uma espécie de “Batman e Robin”, até que Kwarteng, em nome do Governo, apresentou um orçamento intercalar que deu início a toda a sequência de eventos que derrubou Truss. Quinta-feira, esta queixava-se de ter chegado ao seu posto “num momento de grande instabilidade económica e internacional”, devido à guerra da Ucrânia, demitindo-se. Pelo meio, era vista como cadáver político ambulante. Sendo o novo ministro das Finanças, Jeremy Hunt, oriundo de outra fação conservadora, descrito como “primeiro-ministro de facto” pelo Daily Mail.
Já os trabalhistas clamam por eleições antecipadas. Mas é dado como quase certo que os conservadores façam ouvidos moucos, dada a sua atroz posição nas sondagens, com menos 28% de intenções de voto que os trabalhistas, segundo a compilação de sondagens do Telegraph, um jornal assumidamente conservador. Após Truss afundar a libra, aumentar os juros da dívida pública e quase rebentar fundos de pensões quando o seu plano económico foi rejeitado pelos mercados, nervosos por pretender dar cortes fiscais aos mais ricos financiados por um aumento da dívida, os britânicos não podem enfrentar “uma nova experimentação no topo do partido conservador”, implorou o líder trabalhista, Keir Starmer, após a demissão da primeira-ministra. Algo ecoado pelo Partido Nacional Escocês (SNP, na sigla inglesa), os Liberais Democratas e os Verdes.
O problema da oposição é que essa decisão mais uma vez não está nas suas mãos. As regras da disputa dentro dos conservadores será definida pelo influente comité 1922, que representa os deputados conservadores fora do Governo, e que já informou que espera que os resultados sejam anunciados até sexta-feira, 28 de outubro. Mas estes poderão surgir ainda mais cedo, a partir de segunda-feira.