Há duas semanas, duas ativistas da Just Stop Oil, atiraram sopa de tomate para cima da pintura Doze girassóis numa Jarra, de Vicent Van Gogh, que está exposto na National Gallery, em Londres. O objetivo: pôr fim a novos projetos de exploração de petróleo ou gás no Reino Unido.
Conhecido por pretender que o Governo britânico decrete o fim imediato de qualquer novo projeto de petróleo ou gás, o movimento Just Stop Oil tem chamado a atenção precisamente por direcionar as suas ações contra obras de arte em museus.
«O que vale mais, a arte ou a vida? Estão mais preocupados com a proteção de uma obra do que com a do planeta e das pessoas?», questionaram as ativistas que foram formalmente acusadas, no sábado, do crime de vandalismo e invasão agravada, tendo sido presentes ao Tribunal de Magistrados de Westminster. «Milhões de famílias com fome e frio não podem pagar petróleo, não conseguem sequer aquecer uma lata de sopa», denunciaram.
Mas o mais curioso é perceber quem está por trás destas organizações. Ou seja, quem diretamente as financia. Segundo o El Confidencial, o financiamento do grupo Just Stop Oil vem do Climate Emergency Fund (CEF), organização fundada por americanos ricos, em 2019, em Los Angeles.
Embora tenha aberto um canal de doação – possuindo 323 doadores e arrecadando pouco mais de 2.000 libras desde a ação contra a pintura – o grupo recebe dinheiro dessa organização que, segundo o seu site oficial, distribuiu até quatro milhões de dólares entre 39 grupos de ativistas «corajosos e ambiciosos». Além da Just Stop Oil, o CEF também financiou a Extincton Rebellion e a Insulate Britain.
Quem é Aileen Getty?
De acordo com o jornal espanhol, uma das promotoras é Aileen Getty, que também lançou a Fundação Aileen Getty, em cujo site pode ler-se que uma das suas preocupações é o clima. A empresária é filha de John Paul Getty Jr., filantropo e milionário, e neta de John Paul Getty, um dos homens mais ricos de todos os tempos e fundador da Getty Oil Company. O pai de John Paul, George Franklin Getty, foi um dos pioneiros do negócio petroquímico dos EUA. Estamos, pois, perante uma família paradoxal: enquanto o avô montou uma empresa para explorar petróleo, a neta quer fechá-la.
Além do negócio do petróleo, a família está entre as maiores colecionadoras do mundo da arte. O avô, John Paul, criou o Getty Museum em Los Angeles e, no momento da sua morte, em 1976, legou 661 milhões de dólares para a instituição.
De acordo com o site da CEF, Aileen Getty, de 65 anos, «dedicou a maior parte do seu tempo e recursos para apoiar projetos focados em fornecer soluções urgentes para a emergência climática».
Além disso, apoiou várias causas, incluindo na habitação – fundou a Gettlove, uma organização sem fins lucrativos «criada para identificar, acolher e manter residências para inúmeros sem-abrigo que fazem parte da comunidade de Los Angeles». A herdeira pertence ainda a várias associações sem fins lucrativos, como a AIDS Research Foundation, e é embaixadora da Elizabeth Taylor AIDS Foundation.
Filha de Jean Paul Getty II e da sua primeira esposa, Abigail Harris, a sua infância foi marcada pela presença de drogas em casa e pelo sequestro do seu irmão mais velho em Roma pela máfia calabresa em 1973. Na altura, para resolver o drama, o seu avô só concordou em dar parte do dinheiro do resgate (e a custo), alegando que pagar o valor exigido pelos raptores iria encorajar outras ações do mesmo género, tendo cobrado juros ao próprio filho para o resto da vida. John Paul acabou por ser libertado sem uma orelha. O pesadelo não terminou e, aos 25 anos, o rapaz sofreu um derrame que o deixou debilitado para sempre.
Em entrevistas, Aileen Getty chegou a revelar que sofreu abuso sexual por parte de um companheiro da sua mãe.
Foi na Universidade do Sul da Califórnia que surgiu o interesse por causas humanitárias – tornou-se ativa nos protestos contra a Guerra do Vietname –, mas também pelo sexo e pelas drogas, especialmente cocaína. Segundo o El Mundo, atualmente a empresária está limpa de todos os vícios.
Manifestações como as registadas na galeria de Londres têm-se visto um pouco por todo o mundo, com ativistas a recorreram a ações com obras de arte para protestarem. Em julho, por exemplo, estes ativistas colaram-se à moldura de uma cópia de A Última Ceia de Leonardo da Vinci, na Royal Academy of Arts de Londres, e ao quadro The Hay Wain, de John Constable, outro ícone da National Gallery. Três dias antes do ‘banho de tomate’ do quadro de Van Gogh, ativistas do Extinction Rebellion – outro movimento de protesto pelo clima –, invadiram a National Gallery of Victoria, em Melbourne, na Austrália, e colaram as mãos ao Massacre na Coreia, de Pablo Picasso.
Em agosto, dois outros ativistas da afiliada alemã Generation Letzte colaram-se à moldura da Madona Sistina, do artista italiano Rafael Sanzio, na Galeria de Pintura dos Antigos Mestres, em Dresden, Alemanha. Em Itália, dois ativistas da Ultima Generazione – a filial italiana da Extinction Rebellion– atingiram a estátua de Laocoonte, nos Museus do Vaticano. Em julho fizeram o mesmo com o vidro que protege a Primavera de Sandro Botticelli, nos Galeria dos Ofícios, em Florença.