Longe vão os dias em que os Sex Pistols eram a face da contracultura do Reino Unido, uma banda que, em protesto com o dinheiro gasto no jubileu de prata da Rainha Isabel, em 1977, quando o país estava a enfrentar uma severa depressão económica, alugou um barco para tocar músicas como God Save The Queen ou Anarchy in the UK, enquanto navegava pelo Rio Tamisa e passava por locais como o parlamento britânico.
No final, os membros do grupo foram presos, mas acabaram por marcar este período da história da música e da cultura pop num evento que foi descrito pelo crítico irlandês Sean O’Hagan como o “último e maior surto de pandemónio moral baseado no pop”.
Agora, 45 anos depois deste incidente e do lançamento de uma das mais populares músicas contra a monarquia inglesa, foi vendida num leilão a folha original onde o vocalista dos Sex Pistols, John Lydon, também conhecido pelo seu nome artístico Johnny Rotten, escreveu as letras dos singles ‘Holidays in the Sun’ e ‘Submission’, por 50 mil libras (cerca de 57 mil euros).
A venda realizou um valor bem superior ao inicialmente previsto, fixado entre as 15 mil e 20 mil libras.
Esta folha estava incluída numa coleção privada que incluía obras de arte, pósteres e documentos, que foram vendidos na casa de leilões Sotheby’s, na passada sexta-feira. A coleção completa foi vendida por mais de 400 mil euros.
A coleção foi compilada na década de 1990 pelo vendedor de arte contemporânea Paul Stolper, e o antigo curador sénior de Arte Moderna Britânica do museu Tate, Andrew Wilson.
Entre os destaques da venda incluem-se uma colagem intitulada ‘I Hate French Cooking’ de Jamie Reid, artista inglês responsável pela imagem visual dos Sex Pistols, nomeadamente a capa do único disco do grupo, Never Mind the Bollocks, Here’s the Sex Pistols (1977), ou do single da música ‘God Save The Queen’, uma colagem de uma fotografia da Rainha com um alfinete no lábio e suásticas nos olhos, um póster promocional do primeiro lançamento de disco da banda que pertencia ao controverso baixista Syd Vicious (que deixou uma mancha do seu sangue no poster) e um manuscrito da música ‘No Feelings’, escrita por Lydon, que foi vendido por mais de 44 mil euros.
“Quando eu era criança, esta música parecia muito importante”, disse Wilson ao Guardian, confessando que “agora” considera “muito difícil ouvir algumas destas músicas”. Ainda assim, considera todos estes objetos artísticos que juntou para o leilão “infinitamente fascinante e enriquecedores”. “É mais do que apenas a música”, explica. “E é mais do que apenas as imagens. É arte total”.
Uma fortuna gasta em memórias Pode surpreender alguns como um conjunto de “velharias” (dependendo da perspetiva de cada observador) de uma banda punk pode valer mais de 400 mil euros, mas, comparando com os oito milhões de dólares gastos na aquisição da guitarra acústica que o falecido Kurt Cobain, vocalista e guitarrista da banda grunge, Nirvana, usou no concerto MTV Unplugged, em 1993, esse dinheiro parece apenas trocos.
A guitarra acústica do músico de Seattle, uma Martin D-18E 1958 – 1959, é a mais cara “memorabilia” da história da música e foi vendida no passado num leilão em Los Angeles a Peter Freedman, dono da empresa australiana, Rode Microphones, especializada na venda de microfones.
Em segundo lugar nesta lista está uma memorabilia que, apesar de sair do campo da música rock, continua na casa dos milhões. Pelo valor de 7.878 milhões de dólares, Herbert G. Kloiber, um magnata austríaco dos meios de comunicação, comprou, em 2016, um manuscrito da segunda sinfonia de Gustav Mahler, composto por 232 páginas, criado em 1817.
Apesar de inicialmente o comprador ter permanecido anónimo, Kloiber ofereceu este manuscrito à Orquestra de Cleveland e acabou por revelar a sua identidade.
O terceiro objeto mais caro de sempre é também um dos mais bizarros. Comprado por 7,466 milhões de dólares, em 2001, a estátua em tamanho real de Michael Jackson e do seu macaco de estimação, Bubbles, pintada em dourado, criado pelo artista Jeff Koons, completa o pódio de memorabilias mais caras da história da música.
Esta obra é agora propriedade da Broad Art Foundation do empresário e colecionador de arte Eli Broad e está exibida no Museu de Arte do Condado de Los Angeles.