Dire Straits – Alchemy Live

A guitarra despida de todo e qualquer efeito, sem “reverb”, sem “delay”, sem eco, sem qualquer tipo de truque, apenas dedos numa Stratocaster, neste caso uma Schecter Stratocaster. Que som magistral!!!

Mark Knopfler – guitarra e vocais
John Illsley – guitarra baixo
Alan Clark – teclados
Hal Lindes – guitarra rítmica
Tom Mandel – teclados
Mel Collins – saxofone

 

por Telmo Marques

Continuando na senda dos álbuns ao vivo, deixo-vos aqui um dos que mais vezes ouvi, e um dos que igualmente mais me marcou.

Com uma subtileza inaudita até então, este é um duplo álbum ao vivo que além da própria banda, liderada por um autêntico mestre da guitarra e da respectiva escrita de canções, conjuga magistralmente um outro elemento, e talvez igualmente fundamental, que é a participação massiva do público, que mesmo nos momentos mais calmos do concerto, e nunca deixando os seus créditos por mão alheias, insistem sempre em se manifestarem, quer com palmas quer com gritos mais ou menos histéricos.

Lembro-me perfeitamente do ano em que ouvi este portento pela 1ª vez (1985), tinha eu os meus singelos sete anos, ainda antes do lançamento do blockbuster que se veio a tornar, para o bem e para o mal, Brothers in Arms.

O álbum abre com uma versão de Once Upon a Time in the West, do LP Communique, de 1979. Uma versão completamente única, totalmente diferente da versão do álbum, e com um som de guitarra, totalmente inaudito, pelo menos para mim até então. Nunca nos meus curtos anos de vida, tinha ouvido algo que me agarrasse por completo como esta primeira música o fez.

A guitarra despida de todo e qualquer efeito, sem "reverb", sem "delay", sem eco, sem qualquer tipo de truque, apenas dedos numa Stratocaster, neste caso uma Schecter Stratocaster. Que som magistral!!!

A 2ª música do álbum intitula-se Expresso Love, totalmente diferente da sua predecessora, e com MK, e ao contrário do que é costume, a usar uma palheta para o solo desta música, mas mantendo um som absolutamente único, e, apenas ao alcance dos verdadeiros predestinados.

Eis-nos chegados então a uma das melhores baladas jamais escritas, Romeo and Juliet, com MK a trocar a sua guitarra eléctrica por uma National Steel guitar prateada dos anos ´30.
Uma música sobre um desgosto amoroso (sim, mais uma), mas esta retratada com um lirismo que não se encontra subjacente a muitas demais.

"Come up on different streets, they both were streets of shame
Both dirty, both mean, yes, and the dream was just the same
And I dreamed your dream for you and now your dream is real
How can you look at me as if I was just another one of your deals?

When you can fall for chains of silver you can fall for chains of gold
You can fall for pretty strangers and the promises they hold
You promised me everything, you promised me thick and thin, yeah
Now you just say "Oh, Romeo, yeah, you know I used to have a scene with him"

Segue-se-lhe Private Investigations, do LP Love Over Gold, que foi o 1º da banda a atingir o topo do UK album charts. Uma canção tocada pela guitarra acústica do seu mestre, e que curiosamente, foi nº2 das paradas de singles do Reino Unido, apenas atrás (suspiro profundo) dos Survivor, Eye of the Tiger, sim, essa dos filmes Rocky…!!!

O 1º cd conclui-se com a que é considerada por muitos como a versão definitiva de Sultans of Swing, aqui tocada e retocada com uma mestria e sonoridades absolutamente contrastantes com a versão de estúdio, com MK e banda em total sincronia, especialmente o baterista Terry Williams, que eleva esta música, principalmente ao vivo, para mares nunca dantes navegados.

Após esta singela súmula ao que foi o 1º cd, esperar-se-ia que o o 2º nem sequer se lhe equipara-se, tanto a nível lírico como a nível musical. Contudo, nada poderia estar mais longe da verdade.

Two Young Lovers, sendo quase uma "pastiche" de qualquer música de Chuck Berry (enorme influência para um jovem Mark Knopfler) traz-nos o magistral saxofone tocado pelo GRANDE Mel Collins, em tempos membro da banda King Crimson.
Uma música que serve de belo interlúdio para a canção seguinte, Tunnel of Love.

Sou suspeito ao descrever esta canção, pois é de todas do repertório dos Dire Straits, a minha preferida.
Uma canção que começa com a Carousel Waltz, de Rodgers & Hammerstein, tocada de uma forma magistral por Alan Clark, talvez a peça essencial para o sucesso dos Dire Straits nos '80s.
Até 1980, os DS sempre foram um quarteto, e talvez por isso mesmo, sempre soaram a uma pub rock band, apenas com MK a fazer praticamente toda a diferença, pois através da sua guitarra, conseguia conferir um extra boost à banda, diferenciando-a das restantes  desse mesmo circuito.
Com a adição das teclas, surgem automaticamente novas camadas melódicas, que anteriormente, estavam completamente ausentes de qualquer registo da banda, quer em estúdio ou ao vivo.
Ver o crescendo dessa canção, a forma como se desenvolve, até ao seu epílogo, é quanto a mim, e ainda nos dias de hoje, algo que comove e excita ao mesmo tempo, principalmente ao assistir ao dvd, que foi por fim lançado, no início da década passada.

O que dizer de Telegraph Road?!!!
Simplesmente que é, e mais uma vez, a banda a carburar em todos os seus cilindros. MK, Terry Williams e Alan Clark criam um autêntico épico, com uma bateria portentosa, e umas teclas completamente de outro mundo, sempre em completa sincronia e harmonia com todos os restantes instrumentos.
Apenas clarificar que esta música foi sendo composta ao longo da tour de '80\'81, sendo supostamente sobre uma estrada que atravessa Detroit, mas também uma metáfora sobre o progresso e o declínio empresarial no início dos '80s nos EUA.

Como encore, temos Solid Rock, que estando numa classe à parte de todas as outras músicas deste duplo álbum, serve sobretudo como contraste à última música deste espectáculo  magnífico.

Local Hero encerra este concerto de uma forma magistral, sendo para mim um dos melhores instrumentais pop\rock de todos os tempos, ao nível de um Samba Pa Ti de Carlos Santana.
Um upgrade em relação à banda sonora do filme com o mesmo nome, ouvimos aqui a forma como a guitarra se interliga de uma forma genial com o saxofone de Mel Collins, e em que a banda soa como um todo, em uníssono perfeito, sendo ainda hoje o hino oficial do clube de futebol Newcastle United, sempre que jogam em St. James Park.

Fica aqui mais um capítulo de um dos álbuns da minha vida.

Até para a semana.