O legado dos filmes é que a geração dos meus filhos vai mostrar aos filhos deles. Podem, facilmente, assistir aos filmes daqui a 50 anos. Eu não vou estar aqui, mas o Hagrid estará», afirmou com ternura no olhar, no documentário especial da reunião de 20 anos de Harry Potter, da HBO Max, ‘O regresso a Hogwarts’, quase como se estivesse a adivinhar que a despedida não demoraria.
A verdade é que Robbie Coltrane fez com que o mundo se apaixonasse por aquela que é uma das personagens mais carismáticas do universo de feitiçaria criado pela autora britânica J. K. Rowling. O ator escocês, também conhecido pelo seu papel de Valentin Dmitrovich Zukovsky na saga 007, morreu na sexta-feira passada, dia 14 de outubro, aos 72 anos.
A informação foi confirmada pela agente do artista, que relembrou precisamente o seu papel em Harry Potter: «Robbie será provavelmente recordado durante décadas como Hagrid… Um papel que trouxe alegria tanto a crianças como a adultos, provocando um fluxo de cartas de fãs, todas as semanas, durante 20 anos», referiu Belinda Wright, descrevendo-o como «um ator maravilhoso» e «inteligente».
Um homem generoso
Depois do anúncio da sua morte, a criadora de Harry Potter reagiu: «Nunca mais vou conhecer alguém remotamente parecido com Robbie. Ele era um talento incrível, completo, e tive a sorte de o conhecer, trabalhar e rir com ele. Envio o meu amor e as mais profundas condolências à sua família, e sobretudo aos seus filhos», escreveu no Twitter J.K.Rolling, partilhando uma fotografia de ambos.
O ator Daniel Radcliffe, protagonista da saga, também quis homenagear o colega de elenco, ao lado de quem cresceu durante os oito filmes de Harry Potter: «Robbie foi uma das pessoas mais engraçadas que conheci e costumava fazer-nos rir constantemente quando ainda éramos crianças no ‘set‘. Tenho memórias, especialmente, boas da nossa alegria no filme ‘O prisioneiro de Azkaban’, quando estávamos abrigados da chuva torrencial na cabana do Hagrid e ele contava histórias e piadas para manter o espírito animado. Sinto-me incrivelmente sortudo por tê-lo conhecido e trabalhado com ele e muito triste por ter falecido. Era um ator incrível e um homem adorável», lê-se no comunicado do ator.
Já Emma Watson, que dá vida a Hermione, partilhou uma fotografia com Coltrane e um texto nas stories do Instagram:
«Robbie foi o tio mais engraçado que tive mas, acima de tudo, o mais carinhoso e compreensivo, que me acompanhou desde criança até adulta. O talento dele era tão imenso que fazia todo o sentido ele interpretar um gigante — ele encaixava-se em qualquer lugar com o seu brilho. Robbie, se eu alguma vez tiver de ser tão gentil como tu foste para mim em ‘set‘, prometo fazê-lo em teu nome e memória. Espero que saibas o quanto eu gosto de ti e te admiro. Vou sentir falta da tua doçura, das tuas alcunhas, do teu calor, das tuas gargalhadas e abraços. Tornaste-nos uma família. Sempre lá para nós», partilhou a atriz.
Por último, Ruper Grint, o Ron Weasley, partilhou uma fotografia de Hagrid junto à sua cabana: «De coração partido por ouvir que o Robbie partiu. Nunca vou esquecer o cheiro a charutos e cola para a barba – uma combinação maravilhosa. Ninguém neste planeta poderia interpretar Hagrid, só Robbie. Robbie era na vida, tal como Hagrid nos livros e nos filmes, caloroso, compreensivo e hilariante. Um homem de coração gigante que ainda estava a olhar por nós, mesmo décadas depois. Envio muito amor para a sua família. Vejo-te do outro lado, Bobser», escreveu.
A Carreira de Coltrane
Segundo o The Guardian, nascido Anthony Robert McMillan, no próspero subúrbio de Rutherglen, em Glasweglen, Coltrane foi educado no Glenalmond College, um colégio interno cujo castigo corporal descrevia em algumas entrevistas como «violência legalizada», antes de ir para a Glasgow School of Art, estudar representação. Depois disso, começou a atuar em companhias de teatro radicais (incluindo uma trupe da prisão estadual de San Quentin) e fazendo stand-up. O seu nome de família, McMillan, começou a ser substituído pelo pseudónimo Coltrane, em homenagem ao músico de jazz John Coltrane. E assim ficou.
Depois de pequenas aparições em séries como ‘Flash Gordon’ ou ‘Blackadder’, começou a destacar-se no programa de comédia ‘Alfresco’, em meados dos anos 80, e em 1987, teve um sucesso considerável com ‘Tutti Frutti’, a série de televisão escrita por John Byrne, sobre uma banda de rock n’ roll escocesa e que lhe valeu a primeira nomeação nos prémios da Academia Britânica de Cinema e Televisão (BAFTA).
A partir desse momento, Coltrane viu-se cada vez mais procurado para papéis maiores: em 1993 entrou na série Cracker, representando Edward “Fitz” Fitzgerald, um psicólogo criminal que trabalhava com a Polícia de Manchester para resolver crimes. O papel valeu-lhe o BAFTA de melhor ator em três anos consecutivos, de 1994 a 1996.
Internacionalmente, o seu primeiro papel de grande relevo foi o de Valentin Dmitrovich Zukovsky, um líder da máfia russa, antigo agente do KGB e aliado de James Bond em dois filmes de ‘007: Golden Eye’, em 1995, e ‘O Mundo Não Chega’, em 1999.
A partir de 2001, surge no grande ecrã em ‘Harry Potter’ como Rubeus Hagrid, Guardião das Chaves e das Terras de Hogwarts, um meio-humano, meio-gigante e melhor amigo dos grupo dos três jovens amigos.