“O Brasil é a minha causa”, garante Lula da Silva após vencer eleições presidenciais à segunda volta

“É hora de baixar as armas que jamais deveriam ter sido empunhadas, armas matam e nós escolhemos a vida”, asseverou no primeiro discurso.

“Nós não enfrentamos um adversário, um candidato, nós enfrentamos a máquina do Estado colocada ao serviço do candidato da situação para tentar evitar que ganhássemos (…) tentaram enterrar-me vivo mas estou aqui", garantiu, em palco, o vencedor Lula da Silva, candidato do PT que obteve 50,83% dos votos, que derrotou Jair Bolsonaro que alcançou 49,17% dos mesmos quando haviam sido contabilizadas 98,81% das secções eleitorais. Neste “30 de outubro histórico o povo disse que deseja mais e não menos liberdade, igualdade, fraternidade. (…) O povo brasileiro quer viver bem, quer liberdade religiosa, ter livros em vez de armas. O povo brasileiro quer ter de volta a esperança”, frisou o novo Presidente, realçando que "a roda da economia vai voltar a girar".

"Vou governar para os 215 milhões de brasileiros e brasileiras, para um único país, um único povo, uma grande nação. Não interessa a ninguém viver numa família onde reina a discórdia", prosseguiu o recém-eleito dirigente no seu primeiro discurso. "A ninguém interessa viver num país dividido e em permanente estado de guerra. É hora de baixar as armas que jamais deveriam ter sido empunhadas, armas matam e nós escolhemos a vida", acrescentou Lula da Silva. "Vamos restabelecer o diálogo neste país", salientou, pedindo que se chegue ao “entendimento" para atingir "o bem comum” não só nacional como internacionalmente na medida em que "o mundo sente saudade do Brasil”.

O Presidente adicionou, de seguida, que o "Brasil disse que está de volta". "Vamos reconquistar a credibilidade e a estabilidade do país para que os investidores retomem a confiança no Brasil e passam a ser nossos parceiros. O Brasil está pronto para retomar o protagonismo, vamos lutar pelo desmatamento zero da Amazónia, o Brasil e o planeta precisam de uma Amazónia viva", declarou. "Amor prevaleça sobre o ódio, a verdade vença a mentira e a esperança seja maior que o medo" viveremos um novo tempo de paz, amor e esperança, um tempo que o povo tenha de novo direito de sonhar e as oportunidades para ganhar aquilo que sonho"

“Vou precisar de todos os partidos, trabalhadores, empresários, parlamentares, gente de todas as regiões, volto a dizer o que disse em toda a campanha, o Brasil tem jeito e todos juntos seremos capazes”, afirmou. "O Brasil é a minha causa, e combater a miséria é a razão pela qual vou bater-me toda a vida. Obrigada ao povo, a Deus e à imprensa", agradeceu, sendo que as reações à sua vitória não tardaram em surgir.

Os ecos portugueses "Com a certeza de que o mandato, que vai iniciar em janeiro próximo, corresponderá a um período promissor nas relações fraternais entre os povos brasileiro e português e por isso também entre os dois Estados", lê-se na nota, publicada no site oficial da Presidência da República, em que Marcelo Rebelo de Sousa felicita o "Presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela eleição como Presidente da República Federativa do Brasil".

"Já tive a oportunidade de felicitar calorosamente Lula da Silva pela sua eleição como Presidente da República do Brasil. Encaro com grande entusiasmo o nosso trabalho conjunto nos próximos anos, em prol de Portugal e do Brasil, mas também em torno das grandes causas globais", esclareceu António Costa, alinhando-se com Marcelo, e indo também ao encontro da perspetiva de Catarina Martins que, também na rede social Twitter, tal como o primeiro-ministro, congratulou o novo dirigente. "Parabéns, Brasil. Parabéns, Lula da Silva", escreveu a coordenadora do Bloco de Esquerda.

"Saúdo todo o povo Brasileiro e o Presidente eleito, expressando o nosso profundo desejo de que a partir de hoje o país inicie uma nova etapa de desenvolvimento, conciliação e paz social", redigiu Luís Montenegro na mesma rede social, enquanto Augusto Santos Silva deu os parabéns ao Brasil. "Lula ganhou, ufa!", exclamou Ana Gomes, em direto na SIC Notícias, e André Ventura, Presidente do Chega, não se mostrou feliz com os resultados eleitorais.

"Que tristeza. Um país irmão rendido a um candidato corrupto e ex-presidiário. Hoje é um dia muito triste para a lusofonia, mas queria apelar a todos para que se evite violência ou a perturbação da ordem constitucional. Dói sempre perder para a extrema-esquerda, a vida continua", explicou, ao mesmo tempo em que a revista brasileira Veja noticiava que Bolsonaro estaria a isolar-se do mundo, pois sabia-se que ter-se-ia resguardado nos aposentos presidenciais sem atender telefonemas.

"Nesta eleição, os democratas brasileiros souberam unir-se para derrotar o bolsonarismo autoritário, mas os próximos anos serão cheios de desafios", lê-se num comunicado do Livre, partido representado na Assembleia da República pelo deputado Rui Tavares. A força política começou por mencionar o desafio "da reunificação, travando a violência e fomentando a paz social que ofereça ao país a estabilidade necessária para o seu desenvolvimento, como no combate à pobreza e aos ataques ambientais". 

“Face às denúncias de operações disruptivas por parte da Polícia Rodoviária Federal, o Livre condena quaisquer tentativas de bloqueio de votos que possam ter ocorrido e deseja que este momento eleitoral seja um ponto de viragem para o Brasil que fortaleça a sua democracia e as suas instituições democráticas", evidenciou, destacando, entre outros aspectos, que  "a polarização da sociedade brasileira durante a última década foi nos últimos anos agravada por uma governação antidemocrática e profundamente lesiva para o bem-estar social e ecológico do Brasil".

O que se diz lá fora? "Envio as minhas felicitações a Luiz Inácio Lula da Silva pela sua eleição para ser o próximo Presidente do Brasil, após eleições livres, justas e credíveis", elucidou, a seu lado, o chefe de Estado norte-americano, numa declaração divulgada também na noite deste domingo. “Estou ansioso por trabalhamos juntos para continuar a cooperação entre os nossos dois países nos próximos meses e anos", rematou Joe Biden.

Quem transmitiu uma mensagem semelhante, mas no Twitter, foi o líder do governo francês: "Parabéns, caro Lul da Silva, pela sua eleição que dá início a um novo capítulo da história do Brasil. Juntos, vamos unir as nossas forças para enfrentar os muitos desafios comuns e renovar o vínculo de amizade entre os nossos dois países", apontou Emmanuel Macron, referindo-se ao antigo sindicalista que terá como vice-presidente Geraldo Alckmin, do Partido Socialista Brasileiro (PSB), que foi seu opositor nas eleições presidenciais de 2006, então pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).

"O povo do Brasil falou. Estou ansioso para trabalhar com Lula da Silva para fortalecer a parceria entre os nossos países, entregar resultados para os canadianos e brasileiros e avançar com prioridades partilhadas – como proteger o meio ambiente. Parabéns, Lula!", exclamou com entusiasmo, no Twitter, Justin Trudeau, enquanto a mensagem de Pedro Sánchez foi igualmente encorajadora: "Parabéns, Lula da Silva, pela sua vitória, na qual o Brasil aposta no progresso e na esperança. Trabalhamos juntos pela justiça social, pela igualdade e contra as mudanças climáticas. Os seus sucessos serão os do povo brasileiro. Parabéns, Lula!", tweetou o Presidente espanhol. 

"Celebramos a vitória do povo brasileiro, que neste 30 de outubro elegeram Lula da Silva como seu novo Presidente", lê-se na mensagem de Nicolás Maduro. "Vivam os povos determinados a serem livres, soberanos e independente! Hoje no Brasil triunfou a democracia. Parabéns, Lula! Um grande abraço", escreveu no Twitter o Presidente da Venezuela.