Não quer reconhecimento, fama nem nada semelhante, mas sim dinheiro suficiente para saldar as dívidas que vai acumulando na clínica veterinária que o auxilia, comprar ração, snacks, brinquedos e outras coisas que sejam necessárias para os animais que resgata e acolhe todos os dias.
"Aquilo que eu faço com os animais é aquilo que a Câmara Municipal de Armamar deveria fazer. Infelizmente, o abandono animal é muito elevado", começa por dizer Paulo Dimas, em declarações ao Nascer do SOL. "Aqui, além disso, porque é zona de mato, ainda temos a época da caça, há javali e coelho, e os caçadores abrem as cancelas dos cães e parecem ovelhas a correr. Vão-se embora ao final do dia e nem sabem quantos deixam para trás. E isto acontece constantemente", lamenta.
"Neste domingo, reparei que andava um senhor nas vinhas e quando ele foi embora vi uns 10 ou 12 podengos a correr. Uns ficam, outros desaparecem… Enfim, isto é um problema que se agrava com a caça. Aparecem podengos, principalmente às quintas, feriados e domingos. Se em cada aldeia ficarem dois ou três…", reflete o homem que trabalha num armazém de maçãs e se dedica aos cães nos tempos livres.
"Vemos cadelas a parirem no mato o ano inteiro, os animais ficam feridos… E eu tenho muita pena. Não consigo recolher todos, mas quando vejo animais debilitados, atacados, com chumbos – alguém tentou livrar-se deles –, etc., resgato-os e trato deles. Os podengos têm vidas curtas: não duram um ano se se virem perdidos ou abandonados. Para além dos atropelamentos, temos aqueles que são atacados por matilhas de cães grandes, por saca-rabos, temos o javali… Há vários predadores. Isto é como a selva", indica o fundador da página de Facebook 'Ajuda Animais Rua'.
"Alimento-os, mesmo que não fique com eles. Hoje em dia, depende. Resgato-os, levo-os ao veterinário, fico com eles até serem adotados. Normalmente, as pessoas não querem cães crescidos e, por isso, já cheguei a ter quase 20 cães em casa. Esta raça, o podengo, é muito sofredora nesta zona. Vou fazendo aquilo que consigo dentro das minhas possibilidades para nunca deixar nenhum na rua", garante, visivelmente emocionado, recordando o caso de uma cadela que encontrou anteontem. "Não lhe dava mais do que uma semana de vida. Até está cega", sublinha. "Quando não servem mais para reprodução, tiram-lhes o chip e abandonam-nas. Tento arranjar soluções, mas isto não é fácil".
"O Presidente da Câmara Municipal de Armamar, João Paulo Fonseca, não me diz nada. Não deve gostar muito daquilo que estou a fazer, a falar com a comunicação social, mas não apresenta soluções, constata, avançando que a situação dos animais errantes em Armamar ganha contornos cada vez mais complexos e não existe nenhuma associação oficialmente constituída para salvaguardar os seus direitos. "Estou sozinho nisto".
Segundo a Animalife, 119 animais são abandonados por dia, a média registada em 2021, ano em que foram abandonados mais de 43 mil cães e gatos, uma subida de quase 30% quando comparado com 2020. No entanto, na reportagem 'Amor Cão', transmitida no início do mês, pela RTP, a estimativa ultrapassava os 100 mil.
"A proporção dos animais tornou-se tamanha que a minha página pessoal se tornou dos animais, as pessoas podem vê-los no Facebook. Eu também tento dar comida aos animais de rua que vão surgindo, mas não tenho mãos a medir. Enquanto a caça não for abolida ou fiscalizada, isto não vai acabar. A GNR ainda vai tentando, mas tem de estar sempre em cima do acontecimento e não de vez em quando", atira, apesar de evidenciar o trabalho daquela força de segurança.
"Quando me dizem que um cão foi atropelado, por exemplo, nem sequer consigo dormir e fico à espera de que clareie para conseguir encontrá-lo. Fui acumulando dívidas no veterinário Clínica Veterinária Douro Sul, em Lamego, e fazem-me preços como se eu tivesse uma associação: nunca fico com nenhum animal por tratar. São muito amigos dos animais, felizmente", agradece, pedindo a quem tiver possibilidade de doar seja que montante for, via MB Way, para o número 962 653 922.
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