Queriam prova mais evidente de que lhe falta a estaleca mínima para ser Presidente em democracia? Nem era preciso mais, mas não felicitar o vencedor dumas eleições que nunca tinham sido perdidas pelo PR em exercício é a última e mais evidente. A democracia tem as suas regras, que convém respeitar. Como o fizeram, e bem, muitos bolsonaristas institucionais.
Ou como terão recomendado os seus ministros (muito embora muitos deles tenham estado ao lado do Presidente, na declaração a que foi forçado, em que houve sempre o cuidado de manter as mobilizações populares favoráveis a um golpe), segundo as notícias da primeira reunião do velho Governo, logo na 2ª-feira passada, antes ainda da dita declaração, que só foi ontem.
Podem dizer que depois de Trump já estava previsto, como o previu Marques Mendes. Não sei se o Tribunal Eleitoral é suficiente para empurrar Bolsonaro (acho que apesar da sua louvável posição, não foi o determinante, mas um grãozinho a mostrar a Bolsonaro que o golpe militar não se ia fazer) mas sim a tropa, como com Trump. E ninguém espera da tropa brasileira a eficiência e a democraticidade da norte-americana.
De qualquer modo, ficou sem outra hipótese. E o silêncio do PR no Palácio presidencial, só deu para alguns dos seus apoiantes se terem portado tão mal como o próprio Bolsonaro (a imprensa também só lhe dava para ouvir bolsonaristas que defendiam um golpe militar).
Alguém teve de empurrar Bolsonaro, que não soube dar o seu passo em frente por vontade própria, tornando-se desnecessário mesmo para uma ditadura de direita. De facto, um ditador já é alguém que provoca por si tensões, sem ser necessário ou aceitável provocá-las com o seu comportamento.
De resto, o Mundo já deu a sua resposta a Bolsonaro, começando a falar com Lula (88 países já o felicitaram, incluindo Portugal, França, Alemanha, Espanha, EUA, Grã Bretanha, China e Rússia. Talvez ainda conseguisse ser apoiado pela Coreia do Norte, mas até isso seria talvez.
Tudo se deverá ao que Bolsonaro considera uma pequena diferença? Mas a diferença terá sido muito maior em número de votos do que a verificada entre Soares e Freitas em 1986, e em percentagens terá sido quase igual. E em democracia ganha-se e perde-se por um voto. E quem vai a eleições deve estar preparado para perder, tanto como para ganhar.