Jair Bolsonaro cedeu, mas alguns dos seus mais fanáticos apoiantes não. Esta quarta-feira estradas continuavam cortadas em pelo menos 15 estados, estando camionistas bolsonaristas a contestar os resultados eleitorais. Mesmo sem contarem com apoio declarado do Presidente derrotado, que lá reconheceu ter sido vencido após 45 horas de silêncio, durante as quais se dedicou a encontros ou chamadas telefónicas com chefias militares, segundo a Folha de S. Paulo.
“Não adianta mais chorar, nós perdemos o jogo”, salientou o vice-presidente Hamilton Mourão, responsável pela transição para a administração de Inácio Lula da Silva. “Não considero que houve fraude na eleição”, declarou Mourão. Que, em entrevista ao jornal O Globo, questionado sobre os bloqueios a estradas por camionistas, sentenciou que estes têm “que baixar a bola”.
Enquanto tal não acontece, a polícia brasileira tem tentado dispersar bloqueios pela força. A tropa de choque da Polícia Militar avançou no estado de São Paulo, esta quarta-feira, recorrendo a granadas atordoantes e canhões de água para varrer a Rodovia Castello Branco, principal ligação rodoviária entre a capital estadual e o oeste. Alguns dos manifestantes levaram consigo crianças para os protestos, avançou a CNN Brasil, ficando em risco de serem atingidas
No entanto, nem todos os agentes têm tido mão dura contra os manifestantes bolsonaristas. No estado de São Paulo também se viram quatro agentes da polícia militar rodoviária a prestar continência aos camionistas bolsonaristas. “É disso que estou falando, é disso”, gritou um dos manifestantes, outros aplaudiam, num vídeo amplamente divulgado nas redes socais. Já durante as eleições a polícia militar rodoviária tinha imposto operações stop, sobretudo no nordeste, uma região onde a votação de Lula é maior, algo visto como tentativa de intimidar os eleitores.
Entretanto, as associações de camionistas tentam distanciar o seu setor das mobilizações pela recusa dos resultados eleitorais. “Quem está desrespeitando a lei e impedindo o direito de ir e vir dos cidadãos e o trabalho dos caminhoneiros são grupos armados que não aceitam o resultado democrático e soberano das urnas”, frisou a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte e Logística, citada pela BBC Brasil. “Os caminhoneiros estão sendo reféns e vítimas desses grupos”.