O último relatório do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricaro Jorge (INSA) divulgou na quinta-feira que a estimativa para o número médio de casos a cinco dias de covid-19 em Portugal é de 735 infeções diárias a nível nacional e 619 no continente.
De acordo com o epidemologista Manuel Carmo Gomes em declarações à agência Lusa, o número real pode ser três vezes maior.
O também professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa afirma que desde que a linha SNS 24 deixou de prescrever testes de despiste da covid-19, na sequência do fim da situação de alerta em Portugal em 01 de outubro, os dados de incidência no país "estão longe de representar a realidade".
"Presentemente apenas conhecemos resultados de testes realizados em meio hospitalar e de pessoas que se deram ao trabalho de obter receita médica para se testar", sublinhou o especialista, para quem a redução dos despistes das infeções está a comprometer a monitorização atempada da pandemia em Portugal.
Perante as alterações na testagem, o "guia" sobre a situação de coronavírus no país, passou a reger-se pelos números de hospitalizados e de mortes, indicadores que "chegam a ter semanas de atraso em relação ao número de casos", admite epidemologista.
Além disso, o facto de a população desconhecer "quantos casos ocorrem", diminui "a perceção do risco" entre essa mesmaa população.
"Uma doença infecciosa que se propaga silenciosamente tira partido da ausência de medidas que poderiam retardar o seu avanço e, quando finalmente nos apercebemos que a carga de doença na população é já elevada, torna-se mais difícil reverter a sua propagação", realça.
"Durante setembro e parte de outubro tivemos menos de 400 camas ocupadas em enfermaria covid-19. Agora estamos com quase 500 camas", alertou Manuel Carmo Gomes, ao adiantar que as mortes se mantiveram "muito tempo em cinco e seis por dia, mas nos últimos dias a média subiu para 7,6 óbitos".
"Esperemos que esta tendência não se confirme, mas temos de aguardar mais uns dias para saber", afirmou.
O especialista explica que o fator de incerteza acerca da evolução da doença tem também que ver com o facto de, nos últimos meses, a variante Ómicron se ter desdobrado em numerosas subvariantes, que "têm em comum possuir mutações que lhes permitem fugir aos nossos anticorpos".
"Para já não existe evidência (prova) de que sejam mais patogénicas do que as primeiras Ómicron (BA.1, BA.2 e BA.5), mas ainda sabemos muito pouco sobre o seu significado clínico", salientou Carmo Gomes.
O epidemologista adianta que as próximas semanas serão decisivas para comrpeender se a circulação das novas subvariantes, combinadas com a chegada do tempo frio, vai contribuir para o aumento dos novos casos e das hospitalizações.
Recorde-se que, na quinta-feira, o ministro da Saúde, manuel Pizarro, anunciou que no próximo dia 11 vai decorrer um reunião com peritos para fazer um ponto de situação da covid-19 em Portugal.