A marcha chegou, digo. Seguiremos como pessoas de todas as cores, mas por um propósito de ponto em ponto. Do Intendente ao Martim Moniz, da Praça da Figueira ao Rossio. Marchamos e gritamos, mas os números da violência tentam sobrepor-se às nossas vozes. Tudo porque continuamos a viver num país em que programas de violência doméstica foram abandonados e porque a violência continua a assolar as mulheres no mundo inteiro. No entanto, nós somos o exemplo para as gerações futuras, onde o silêncio nunca é nem será opção. Cartazes vão ser erguidos, vozes vão ser ouvidas em uníssono e associações, ativistas, advogados e mulheres e homens vão fazer valer os seus direitos que continuam a ser ignorados originando números negros no contexto da violência contra as mulheres. Apesar de no artigo anterior ter referido tudo o que foi conquistado, com vinte e duas mulheres mortas e mulheres violadas com um prazo de prescrição de queixa de 6 meses, onde o esperma do violador não é conservado para que a sobrevivente possa mais tarde decidir se quer ou não apresentar queixa, onde não se criam mais e mais gabinetes de apoio às sobreviventes de crimes de índole sexual e se deixam as mulheres num submundo desigual, vamos ter muito que marchar e marchar e gritar e gritar. A sociedade civil em peso mobilizou-se.
Figuras do panorama político mobilizaram-se, mas uma carapaça foi criada em volta deste assunto arrastando as sobreviventes deste crime para um sítio ainda mais escuro e difícil onde as próprias manifestaram o desejo de mudança nos vários meios de comunicação social. Então, novembro é sempre um mês marcante, porque nos juntamos como mulheres que representam Portugal na temática da violência contra as mulheres. E todo o tipo de violência: violência doméstica, violação, assédio, perseguição. Para as famílias vítimas destes trágicos crimes, novembro é o ano inteiro e eu não deixo de lembrar as vidas ceifadas por estes crimes hediondos, onde os seus nomes deviam também ser erguidos nas nossas memórias: Carla, Beatriz, Valentina, Susana, Marcelo, Vânia, Denise, Gianna, Adélio, Sandra, Silvia e tantas, tantas outras.
Convoco todas as pessoas para que estejam presentes, todas as vozes são necessárias, para erradicar a violência contra as mulheres. Segundo o Diário de Notícias: «Soube-se que o número de queixas por violência doméstica tem vindo a aumentar, atingindo 8.887 no terceiro trimestre, o número mais elevado desde 2018, quando se registaram 7.423 participações.
Os dados estatísticos assinalam 23.250 queixas desde o início do ano, assim como a morte de 21 mulheres em contexto de violência doméstica, contra 23 em 2021, 32 em 2020 e 35 em 2019.
O número de pessoas abrangidas por teleassistência duplicou desde 2018, passando de 2.041 para 4.314, de acordo com dados os apurados no terceiro trimestre de 2022.
A Rede Nacional de Apoio às vítimas de violência doméstica acolheu (dados compilados no terceiro trimestre deste ano) 853 mulheres, 706 crianças e 15 homens».
No entanto o Diário de Notícias contabilizou o número total de mortes e não de mulheres mortas sendo que em 2022 vamos com um número de 22 mulheres mortas contra o número total de 16 para o ano inteiro de 2021.
Por todas elas e todos os tipos de violência: Iremos marchar e marchar, gritar e gritar!