Pedro do Carmo, Deputado, presidente da Comissão Parlamentar de Agricultura e Mar
Em tempos de resiliência e de incerteza, é bom poder contar com valores seguros da nossa capacidade produtiva e de transformação, resultantes do enorme potencial do nosso Mundo Rural e do Mar, como acontece com as conservas de peixe.
O Mar, essa fonte de inspiração, de recursos e de experiências, tem sido porto de acolhimento do labor de muitas mulheres e homens envolvidos na captura de peixe, na disponibilização para consumo fresco ou na sua transformação em conserva, que acontecerá em Portugal desde a década de 1850. As conserveiras portuguesas, talvez as mais antigas expressões de industrialização, são um bom exemplo de afirmação da excelência da produção alimentar nacional, quer por terem sido o maior exportador e dinamizador social no século XX, quer pelos impulsos de modernização, de sustentabilidade e de valorização dos produtos que têm sido concretizados neste século. Estamos a falar de 16 conserveiras, com cerca de 3500 empregos diretos, que trabalham com 34 espécies de pescado, com mais de 800 referências de marcas que fazem parte das nossas memórias, do nosso presente e de diversos mercados espalhados pelo mundo.
As conservas de peixe são parte dos nossos passados e têm construído um lugar num futuro de uma alimentação saudável e sustentável, por serem produtos sem corantes nem conservantes, ricos em ómega-3, versáteis e convenientes. Foram parte importante da subsistência e afirmação de muitas comunidades piscatórias, ligadas à faina do mar, e são parte importante de uma alimentação saudável e equilibrada, com preocupações ecológicas presentes nas capturas, na aquacultura, na redução das emissões de carbono em busca da neutralidade carbónica, na valorização do produto nacional nos hábitos de consumo dos portugueses. As conservas de peixe são passado, presente e futuro, na valorização do pescado e na dinamização de outras indústrias como aconteceu ao longo dos anos, com reconhecimento nacional e internacional. Por exemplo, na Exposição Universal de Paris de 1855, foi atribuída uma menção honrosa às conservas de sardinha, expressão de um reconhecimento que se tem mantido desde então pela preferência dos consumidores. Vítima de uma certa secundarização ou desqualificação nas tendências gastronómicas, a verdade é que as conservas de peixe são um valor seguro para a confeção de diversos pratos saudáveis, podendo assumir uma dimensão gourmet como já o comprovaram diversos chefes de cozinha, não sendo, no entanto, entrar em ridicularizações sobre o seu valor comercial e as medidas de segurança subjacentes à salvaguarda da sua preservação.
As conservas de peixe são um ativo da nossa indústria agroalimentar e piscatória, são parte das opções dos portugueses e contribuem para as exportações do país.
Pelo que foram ao longo de décadas, na valorização do melhor do nosso mar, no acolhimento das vivências das comunidades e na sustentação de uma indústria que contribuiu para o desenvolvimento local, mas também pelo que representam no presente e para o futuro, de um produto nacional de excelência, saudável e utilizável em diversas circunstâncias, faz todo o sentido reconhecer esse labor, criando o dia nacional das conservas de peixe a 15 de novembro. A data em que, pela primeira vez de muitas, na Exposição Universal de Paris, se reconheceu a excelência do resultado do trabalho dos empresários, trabalhadores e comunidades, na transformação do pescado em conserva de peixe.
Conservas de peixe uma boa parte da produção nacional agroalimentar e piscatória.