Ucrânia volta a Kherson

Depois da retirada dos russos, as forças ucranianas regressaram a Kherson. Mas ainda se receia que se trate de uma emboscada e haja soldados russos escondidos no território.

As forças russas abandonaram por completo Kherson, uma das principais conquistas de Moscovo durante a invasão da Ucrânia. O anúncio foi feito pelo ministro da Defesa russo, numa altura em que as tropas ucranianas já chegaram à região, procedendo com alguma cautela uma vez que existem relatos que soldados russos ficaram para trás e estão escondidos e disfarçados de civis.

Segundo meios de comunicação da Rússia, os soldados russos e a sua artilharia foram transferidos para a margem leste do rio Dnipro, numa manobra que movimentou mais de 30 mil homens, acrescentando que não foram registadas perdas de material ou de qualquer homem.

O Kremlin argumentou que não fazia sentido manter as suas forças nesta região uma vez que era uma tentativa «fútil» perante o crescente contra-ataque ucraniano.

A confirmar-se, esta é uma derrota pesada para Moscovo: Kherson foi uma das mais importantes conquistas da invasão russa, uma vez que servia de porta de entrada para a Crimeia e foi a única capital regional conquistada durante esta ofensiva. Ainda assim, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, recusou reconhecer esta retirada como «humilhante», acrescentando ainda que não existem «arrependimentos».

O Kremlin reforçou também que a retirada das forças russas de Kherson não mudará o estatuto da região, que Moscovo incorporou no país no final de setembro após um referendo, e que também contou com a anexação de Donetsk, Lugansk e Zaporijjia.

«Este é um assunto da Federação Russa e está legalmente fixo e definido. Não há e não pode haver mudanças», disse Peskov sobre o estatuto dos referendos que foram denunciados por Kiev e considerados ilegais pela comunidade internacional.

Depois de abandonarem este território, os russos destruíram a ponte Antonivka, a única passagem rodoviária próxima de Kherson para a margem leste do rio Dnipro.

 

Bandeira ao alto

Após a retirada da maioria das tropas russas, as unidades ucranianas começaram a entrar em Kherson, reportaram os serviços de inteligência da Ucrânia, um regresso que está a ser considerado um enorme «sucesso» e uma «vitória».

«A Ucrânia está a conquistar outra vitória importante e agora prova que o que quer que a Rússia diga ou faça, a Ucrânia vencerá», escreveu no Twitter, o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba.

Em imagens partilhadas nas redes sociais, é possível observar a infantaria ucraniana a ser recebida pelos moradores em grande festa.

Um membro do conselho regional de Kherson disse à Reuters que quase toda a cidade estava já sob controle das forças armadas ucranianas.

No entanto, os moradores foram aconselhados a permanecer dentro das suas casas. A agência de inteligência ucraniana informou que existem soldados russos que permaneceram em Kherson e que receberam ordens dos seus comandantes para vestir roupas civis e se esconderem.

As autoridades ucranianas instigaram os soldados que ficaram para trás a renderem-se imediatamente, garantindo que a sua segurança seria garantida caso o fizessem. «Existe apenas uma hipótese de evitar a morte e é render-se imediatamente», informaram.

«Em caso de cativeiro voluntário, a Ucrânia garante sobrevivência e segurança. Cumprimos as Convenções de Genebra, garantimos aos prisioneiros de guerra alimentos, assistência médica e a possibilidade da sua troca por soldados das Forças Armadas Ucranianas mantidos em cativeiro na Federação Russa», disseram os serviços de inteligência num comunicado publicado nas redes sociais, pedindo aos soldados para abordarem os militares ucranianos com as suas armas penduradas ao ombro, com uma bandeira ou pano branco, e gritar: «Rendo-me».