Silêncio que se está a cantar o fado dos desgraçadinhos

O Benfica manteve-se imparável (3-1 ao Gil Vicente) e chega ao Natal com 8 pontos de avanço sobre o FC Porto. O campeonato interrompe-se no meio de choradinhos – afinal porquê? Dos quatro últimos Mundiais, dois foram no Inverno.

Fecha-se a cortina sobre a primeira fase do campeonato – devagarinho que, talvez por causa da diferença horária, ainda houve tempo de agendar um Santa Clara-Estoril para os_Açores, ontem, segunda-feira – e, sem surpresa, convenhamos, o Benfica fez a sua obrigação de ganhar na Luz ao Gil Vicente (3-1) e, com isso, passar o período natalício com oito pontos de vantagem sobre o FC Porto, que também por via da vitória no dérbi da Invicta (4-1 no Bessa), será o único a apresentar-se como autêntico candidato a disputar o título com os encarnados. No regresso, se voltarem todos por inteiro, como é de esperar,  sonhará até o dragão em ver os Imbatíveis de Roger Schmidt perderem pontos em Braga já que a partida da 14.ª Jornada está agendada para dia 28 de dezembro. Nessa altura talvez haja um pouco mais de entusiasmo (para já, o entusiasmo parece ter sido açambarcado pelos adeptos das águias) neste campeonatozinho nacional de meia-tijela, que tem, todas as semanas, jogos pobríssimos mas nem por isso leva a direção da Liga a repensar o exagerado número de equipas que disputam as nossas duas principais divisões.

Por todo o lado se ouvem as lamechices sobre esta interrupção do campeonato para que se jogue uma fase final do Campeonato do Mundo, o que não deixa de ser contraditório já que nunca ninguém pareceu incomodar-se muito com a mesma interrupção (diferença de uma semana?) para que se disputasse a fase de grupos de uma competição tão rafeira como é a Taça da Liga – geralmente logo seguida de uma eliminatória da Taça de Portugal. Só por exemplo, na época passada a Jornada 11 disputou-se entre 5 e 7 de Novembro e a 12 só ressuscitou a partir de 26 para, logo a seguir, a Jornada 15 e a 16 sofrerem nova descolagem de dez dias. Não me recordo de ouvir ninguém a cantar o fado dos desgraçadinhos como agora, mesmo que, para quem gosta a sério de futebol, seja preferível assistir aos jogos de um Mundial do que aos de uma taça tão mal enjorcada que está em vias de ser reduzida a quatro clubes (os quatro primeiros do campeonato, claro, porque só eles é que dão dinheiro) e despachada para o estrangeiro – que diabo de país sem ser o Luxemburgo fervilhará de ansiedade para receber as meias-finais e  a final desse mostrengo que é a Taça da Liga Portuguesa?

 

Silêncio!

Silêncio, portanto, que o fado chora-se e não se ri. Uns vivem agastados com o facto de, pela primeira vez, termos um Campeonato do Mundo realizado no Inverno, com todos os prejuízos que isso acarreta, mesmo que seja hábito antigo de muitos países da Europa Central interromperem as competições por via das dificuldades climáticas. A falácia vai mais longe, mas não tem pernas que a sustentem. Desde 2002 que tenho estado presente em todas as fases finais de Mundiais – esta será a sexta – e duas delas foram disputadas no_Inverno. No Inverno do hemisfério sul, como está bem de ver (África do Sul em 2010 e Brasil em 2014). Os que se lamentam hoje nunca se preocuparam com as interrupções dos campeonatos do_Brasil, do Uruguai, da Argentina, e por aí em diante, provavelmente porque não envolvem verbas tão monstruosas como o campeonato de Inglaterra, de_Espanha ou da Alemanha – o nosso, basicamente, não atrai para a frente das televisões senão umas centenas de milhares de gatos-pingados.

Confesso que me falta a pachorra para tanto fadista e que não tenho um tostão furado para dar para esse peditório. Enquanto por cá, os fanáticos do clubismo enrolarão os cachecóis em volta dos pescoços e farão filas para jogos tão emocionantes como o Estrela da Amadora-Benfica, o FC_Porto-Vizela ou o Sporting-Farense, já para não falarmos do Torreense-Académico de Viseu, aqueles que preferem o futebol como espetáculo vão ter a oportunidade de passarem o tempo que falta até ao_Natal a espreitarem o que se passa nos confrontos entre as melhores seleções do mundo. É verdade que há, em redor da equipa de Portugal – tão recentemente nas palminhas do povo como sua menina bonita – um descrédito ou um desalento, se preferirem, que faz com que muitos não estejam dispostos a despir as camisolas dos clubes do seu coração para colocarem ao peito os cinco escudos azuis da Batalha de Ourique. Ora batatas!, como diz a lógica._Então o vermelho e o verde só lhes ficam bem quando este retângulo atlântico sua em bica debaixo de 40º centígrados? Ainda se dizia antigamente que o futebol era um desporto de Inverno. Os tempos mudaram muito.