É impossível recordar o cinema nos anos 1980 e não pensar imediatamente em dois dos seus protagonistas mais carismáticos, icónicos – e musculados: Sylvester Stallone e Arnold Schwarzenegger.
Entre grandes sucessos de bilheteiras e alguns fracassos, entre aclamados filmes que mudaram a história do cinema, como o Exterminador Implacável (1984), no caso do ex-governador da Califórnia natural da Áustria, ou Rocky (1976), do homem nascido e criado em Hell’s Kitchen, os dois atores participaram em alguns dos mais famosos filmes da história de Hollywood.
Mas, a par de filmes repletos de testosterona, estes atores protagonizaram durante a década de 1980 uma acesa rivalidade para ver quem lucrava mais nas bilheteiras de todo o mundo.
Atualmente, esta rivalidade foi colocada para trás das costas, com Stallone Schwarzenegger a participarem juntos em filmes como a saga Os Mercenários ou Plano de Fuga (2013). Mas a competitividade, admitiram, chegou a ser “pouco saudável”.
“Nós não gostávamos nada um do outro na altura. Isto pode soar um pouco vaidoso, mas acho que fomos pioneiros num tipo de estilo de cinema naquela época e que não foi visto desde então”, disse Stallone à Forbes, numa entrevista de promoção para a sua nova série, Tulsa King, que estreou no 13 de novembro no serviço de streaming Paramount+ (em Portugal, estará disponível na plataforma SkyShowtime, mas só em dezembro).
“Havia muita competição, é a nossa natureza, ele é muito competitivo e eu também… penso que isso nos ajudou a alcançar este nível de sucesso, mas fora do ecrã também éramos competitivos e isso não era uma coisa saudável, no entanto, acabámos por nos tornar realmente bons amigos”, concluiu o ator que deu vida a Rambo e Rocky Balboa.
A partida de Arnold A competitividade entre Schwarzenegger e Stallone era tão feroz que estes andavam atentos às ofertas que os rivais estavam a receber para tentar roubar os melhores papéis, mas esta feroz estratégia nem sempre tinha os melhores resultados.
Na tour de promoção de Tulsa King, Stallone recordou o episódio em que conseguiu o papel principal em Pára ou a Mamã Dispara (1992), em que este interpreta o papel de um polícia duro que recebe a visita da sua mãe, Tutti (interpretada por Estelle Getty), que começa a interferir na sua vida até que acabam por resolver um mistério juntos.
Este filme é considerado um dos piores do reportório do protagonista de Rambo (1982) e o próprio já reconheceu que preferia nunca ter entrado na longa-metragem.
Stallone viu o seu nome a ser associado a este projeto como parte de uma partida de Schwarzenegger, recordou numa entrevista no The Jonathan Ross Show.
“Nós não suportávamos viver na mesma galáxia durante algum tempo. Odiávamo-nos de verdade”, revelou o ator, que agora se prepara para interpretar o papel de Dwight “The General” Manfredi na série Tulsa King. “Ele é muito inteligente. Andou pela cidade a dizer: ‘Mal posso esperar para fazer este filme’. Virei-me para o meu agente e disse: ‘Tira este projeto ao Schwarzenegger. Oferece opções às pessoas sobre mim”.
No fim, Stallone conseguiu o papel do polícia Joe Bomowski, mas rapidamente percebeu que tinha cometido um erro. “Quando peguei no guião pensei: ‘Isto é um pedaço de esterco.’ O Schwarzenegger gozou comigo, mas eu disse-lhe: ‘Pelo menos não apareci grávido num filme, Arnold. Estamos quites”, gozou, referindo-se ao filme de Ivan Reitman, Junior (1994), onde o ex-Mr Universo interpreta o papel de Alex Hesse, um cientista que aceita experimentar um medicamento que o deixa grávido.
Do ódio à amizade Esta inimizade começou muitos anos antes. A primeira vez que se encontraram foi na cerimónia dos Globos de Ouro de 1977, em que Stallone estava nomeado para o Prémio de Melhor Ator, pelo seu papel em Rocky, e Schwarzenegger para o prémio de Nova Estrela do Ano, pela sua participação no filme Stay Hungry, de Bob Rafelson.
Este evento foi marcado por um incidente em que Stallone atirou um jarro de rosas contra Schwarzenegger, justificando mais tarde, numa entrevista à Variety, que o rival se riu dele ao saber-se que Stallone tinha perdido o prémio. “Depois desse momento até o nosso ADN se odiava”, confessou.
Esta rivalidade mesquinha durou diversas décadas, com os atores a tentarem mostrar nos seus filmes que conseguiam ter mais mortes e mais armas. Stallone acusou Schwarzenegger de ser nazi e o seu pai de recolher judeus e enviá-los para campos de concentração (apesar de alguns familiares de Arnold serem efetivamente membros do partido nazi austríaco, não existem provas que liguem o seu pai a este grupo de extrema-direita e o próprio ator condenou em diversas entrevistas este alinhamento político). Em sentido inverso, Schwarzenegger acusou Stallone de estar desligado do “movimento feminino”.
O machado de guerra seria enterrado na década de 1990, quando os filmes das antigas estrelas começaram a perder relevância e a lucrar menos nas bilheteiras, tendo sido vistos a dançar juntos no festival de cinema de Cannes em 1990.
Já nessa altura, havia o projeto de ambos participarem numa longa-metragem onde interpretariam polícias travestis. No entanto, a ideia nunca chegou a ir para a frente.
Anos mais tarde, depois de abrirem um restaurante juntos, de ambos serem mencionados em filmes protagonizados por cada uma destas estrelas, de Stallone aparecer em diversos eventos da campanha de Schwarzenegger para se tornar governador da Califórnia, doando, inclusive, 15 mil dólares para o comité do seu amigo, os dois atores, 35 anos depois de se terem conhecido, surgem juntos no grande ecrã, em Os Mercenários, filme que reúne ainda outros “veteranos” dos filmes de ação, como Bruce Willis, Jet Li, Dolph Lundgren ou Mickey Rourke.
Esta ideia estendeu-se a dois outros filmes e um quarto, intitulado Expend4bles, que será lançado em 2023. Apesar de Schwarzenegger ainda não estar confirmado no elenco, pelo menos podemos concluir que esta decisão não foi tomada por rancor.