Os seus quadros representavam lugares negros já que, quando lhe perguntavam por que pintava, respondia que «queria dar rosto ao terror»: «Pinto aquilo que arranha, aquilo que dói, porque quero dar uma face ao medo», explicou Paula Rego a Anabela Mota Ribeiro, numa entrevista em que admitia que o medo vivia consigo todos os dias. Morreu no dia 8 de julho deste ano e agora, o Museu de Serralves no Porto, fez questão de a relembrar através da exposição ‘Quem conta um conto… Paula Rego na Coleção de Serralves’, que foi formalmente inaugurada na sexta-feira, apesar de já estar aberta ao público desde o final de outubro. «É uma viagem, porque permite ver o percurso da Paula Rego. Temos obras desde 1975 até 2004, portanto o período é suficientemente abrangente para conseguirmos ver o percurso da artista», explicou aos jornalistas Isabel Braga, curadora da exposição, acrescentando que a mostra tem 21 obras, sendo 20 do acervo de Serralves, algumas delas depósitos, e uma de um colecionador privado. «O título da exposição fala justamente de quem conta um conto, acrescenta um ponto e é um pouco isso. Por um lado, a Paula Rego vai buscar os seus temas a contos populares tradicionais, a temas literários, a histórias da sua infância e com essas informações ela vai-nos contar várias histórias. Cada quadro dela é uma história, ou seja, ela vai acrescentar algo ao conto original. Para além disso, todos nós vamos também acrescentar a nossa própria interpretação e vamos dar a nossa própria leitura das coisas com base no nosso conhecimento», detalhou a curadora. Segundo Isabel Braga a exposição revela a «linguagem extremamente singular» que Paula Rego foi construindo desde o início da sua carreira: «Desde o início da carreira [de Paula Rego] que há crítica ao regime político da altura e depois ao longo de todo o seu trabalho até às obras mais recentes, que é precisamente essa crítica ao poder, ao totalitarismo. Ela é uma pessoa que teve sempre o seu modo de pensar muito livre, que era caracterizada por uma certa desobediência aos padrões», realçou.
Apesar da exposição não ser oficialmente uma celebração do 25 de abril, a responsável afirmou que mostra «as críticas ao Estado Novo que Paula Rego fez pela arte ao longo de toda a sua carreira». Na exposição, que estará patente até 30 de dezembro, os visitantes poderão encontrar um conjunto de obras em torno do tema ‘Menina e cão’, de 1987 e ainda o universo dos contos infantis da artista através da obra ‘Children and their Stories’ de 1989, que conta a história de um grupo de crianças que dança de mãos dadas, numa roda.