A importância de estar a dois

Seria bom que os casais se permitissem passar uns dias sozinhos, ou, se isso não fosse possível, pelo menos jantarem sozinhos de vez em quando…

Certa vez num grupo de mães alguém pedia ideias para passar umas miniférias só com o marido. Muitas mães surpreendidas e quase indignadas responderam que adoravam as férias em família, que felizmente se davam todos muito bem e que nunca tinham tido necessidade de fazer férias sozinhos. Achei curioso o curso da conversa, como se uma família que está sempre junta fosse mais ‘perfeita’ do que a que vê necessidade ou tem vontade de às vezes tirar férias de si própria. Como se isso fosse um crime. Como se uns fossem os maus e os outros os bons.

Por melhor que uma família se dê, os momentos em família são necessariamente diferentes dos momentos a dois e é importante que haja espaço para ambos. Dependendo da idade ou do feitio dos filhos, podem ser mesmo muito diferentes. 

Dizer que o casal tem prazer em tirar férias sozinho não é um ataque à família. Não é dizer que não gosta dos outros ou que é melhor quando não estão todos juntos. Não, é só dizer que também gosta de estar a dois. Que é diferente estarem todos juntos ou separados, sendo que ambos os tempos são bons e necessários para todos.

Há também pais que sentem que os filhos ficam tristes, que são muito pequenos ou que é injusto deixarem-nos para estarem uns dias juntos. Obviamente não me refiro às férias grandes ou em deixar filhos pequeninos para trás, mas de fazer, por exemplo, um fim de semana prolongado a dois quando as crianças já têm idade para ficar uns dias sem os pais. Na verdade, para os filhos, apesar de poderem ficar tristes com a partida ou a distância dos pais, é importante saberem que eles existem enquanto casal, que gostam de estar juntos, que a família é um todo, mas que também são duas partes e que não existiria, pelo menos de uma forma sólida e harmoniosa, se o casal não existisse. Não devem ser os filhos a unir os pais ou a mantê-los unidos, os pais devem estar unidos por si e é também esta relação que permitirá a continuidade enquanto família e que lhe trará mais segurança.

Muitas vezes os pais também sentem, como as mães daquele grupo, que agora que são uma família o ideal será estarem sempre juntos. Mas por mais ‘perfeita’ que seja uma família, é totalmente diferente o tempo a dois ou com todos. Seria bom que os casais se permitissem passar uns dias sozinhos, ou, se isso não fosse possível, pelo menos jantarem sozinhos de vez em quando, para se reencontrarem, para conversarem sem interrupções, para fazerem programas que para os filhos são enfadonhos, para criarem mais histórias juntos, para namorarem, para estarem livremente sem preocupações. Se os filhos ficarem com familiares será uma oportunidade para estreitarem relações, para passarem uns dias diferentes, para aproveitarem a folga dos pais. No início pode custar, mas geralmente depois sabe bem. Desde que não sejam demasiado pequenos e que a ausência não seja demasiado longa. 

É que estas pausas não são sobre afastar a família, são como uni-la e organizá-la. Numa família é importante saber que os papéis de todos são igualmente importantes, mas necessariamente diferentes. Só isso traz tranquilidade e harmonia, só isso pode trazer segurança a cada um. O papel dos pais é também o do motor que faz andar e crescer a família. E estes momentos a dois são o melhor combustível para a levar a bom porto.