AL KHOR – É uma cidade pequena, beije, com casas de adobe que mal se distinguem do derredor arenoso, uns torreões a cair aos bocados de antigos postos de vigilância do tempo dos conflitos tribais, uma velha mesquita vagamente turística. Sai-se de Doha pela Al Shamal Road (Al Shamal é o nome da província mais a norte do Qatar) e trepa-se pele país acima, não mesmo até ao topo, onde fica Al Ru’ays, a última das cidades do norte, quase em frente a Manamá (capital do Bahrain), separadas por um canal estreito, mas virando-se à direita num cruzamento bastante movimentado para os parâmetros locais. Aqui não chegou a linha impecavelmente nova em folha da rede de metropolitano que dá acesso a todos os estádios menos ao de Al Bayt, onde Qatar e Equador abriram este Mundial, e onde regressarei na próxima sexta-feira para assistir ao Inglaterra-Estados Unidos. É preciso viajar numa autoestrada em ótimo estado que vai sendo composta, aqui e ali, com pedaços implantados de relva e de arbustos pelo meio, obras que ficaram por terminar.
No final do jogo, os autocarros que trouxeram os jornalistas ainda não estavam no parque de estacionamento onde nos tinham deixado. Foi-se fazendo uma fila razoável entre fotógrafos e fulanos da escrita, cada um à procura de se colocar no melhor sítio para subir para as viaturas mal elas se dignassem a chegar pelo meio de uma confusão de polícias e guardas de trânsito um bocado às aranhas. Vi-me rodeado por um grupo de italianos que gesticulavam como italianos e discutiam como italianos, “Per la Madonna!” e por aí fora. Um deles, particularmente aborrecido, soltou uma frase irritada mais ou menos do género: “Incrível! Uma desorganização total! Ainda por cima logo aqui, que fica longe!!!” Longe? 40 km? A maior distância que os macacos como nós têm de percorrer para verem um jogo??? Confesso que não resisti quando lhe ouvi pela quinta vez a expressão “che casino!” Disse-lhe em troca: “Ma tu sei salito di un film di Totó?! Che scherzo!” Sim. Brincadeira. Ainda por cima quando, há quatro anos, andávamos de um lado para o outro nos céus da infinita Rússia. E daqui a outros quatro a coisa promete fiar fininho com Canadá, Estados Unidos e México. É preciso ter descaramento.
Mas se há povo que perceba de descaramento é o italiano, e a Itália nem sequer por cá anda. De descaramento e de mães. São os maiores especialistas em mães, “Mamma mia”!