Por Pedro do Carmo, deputado, presidente da comissão parlamentar de agricultura e mar
Não haverá maior contradição nas perceções públicas em relação à capacidade produtiva nacional do que a divergência entre o preconceito em relação à fileira que produz a carne porco portuguesa e o enraizamento desta na gastronomia, nas tradições, na economia nacional, nas exportações e num aproveitamento integral destes produtos de origem animal. Uma realidade decisiva para a resiliência alimentar de muitas famílias, ao longo dos anos, em boa parte do território. Do porco, aproveita-se tudo, e há excelentes exemplos de valorização das raças autóctones, tendo tido o privilégio de ter participado na afirmação da fileira do porco alentejano em Ourique, que se assume como Capital desse produto de excelência do nosso Mundo Rural.
O mesmo sentido de distorção está presente na divergência entre perceção e de valorização do setor, demasiadas vezes negativas nas decisões dos poderes, nos media e nas opções dos consumidores, e o peso dos mais de 200 milhões de euros que a fileira da carne de porco representa para o PIB nacional ou os 170 milhões de euros das exportações.
Há uma divergência entre o valor real e o valor facial, que precisamos de superar.
Portugal precisa de reforçar a sua soberania alimentar, a sustentação de uma capacidade produtiva mais próxima dos consumidores, que devem colocar os produtos nacionais na equação das suas opções de compra, também com um esforço das cadeias de distribuição para disponibilizar produtos de excelência, com uma pegada ecológica menor.
Bem sei, que ecoa em muitos as notícias de más práticas ambientais das suiniculturas, mas é preciso não tomar o conjunto das varas por alguns casos em concreto e sobretudo, o setor tem revelado uma forte determinação em corresponder aos novos desafios e tendências, de um novo compromisso de promoção do bem-estar animal e da substituição de adubos de síntese por fertilizantes orgânicos, entre outros impulsos incentivados pela FPAS.
É preciso valorizar a carne de porco nacional, sublinhando o seu papel numa alimentação equilibrada, da diversidade de produtos que permite, a sua importância para a manutenção de marcas de identidade e a relevância das produções para as famílias, regiões e o país.
É preciso superar os preconceitos, os problemas (ex. no licenciamento das explorações) e os mitos, melhorando as condições de produção, com preocupações ambientais, de sustentabilidade, de segurança alimentar e de bem-estar animal, o que implica, no fim da cadeia de distribuição o reforço da carne de porco nacional nas opções de consumo dos portugueses.
É preciso continuar a inovar, a investigar, a capacitar e a reforçar a exigência na produção, sempre com noção dos equilíbrios para a viabilização das atividades. Neste contexto, os projetos da exploração-escola com a Escola Superior Agrária de Santarém ou o Roteiro para a Sustentabilidade Ambiental são dois bons impulsos da FPAS para corresponder ao desafio da melhoria das produções, das preocupações com o bem-estar animal e da ambição em conquistar maiores contas do mercado de consumo nacional.
Há consciência do caminho a percorrer, de novos equilíbrios a encontrar e de responder às tendências para continuar a contribuir para as famílias envolvidas na produção, para as economias locais assentes em fileiras de raças autóctones e a capacidade exportadora do país.
A produção tem essa consciência, falta combater ainda mais os problemas e os preconceitos, para que o consumidor cumpra a sua parte: consumir mais produto nacional. A novos compromissos de produção devem corresponder bons hábitos de consumo. É a vez do consumidor escolher produto português. O Mundo Rural, que nunca faltou, precisa desse apoio.