Crescer requer experiências, e essas requerem caminhos menos felizes. Contudo, interrompê-los é melhor do que concluí-los, da mesma forma que a responsabilização é melhor que a perpetuação do negativo. Dizer ‘não’ pode não resolver a maioria das questões, mas mitiga o seu custo e desenvolve o caráter.
Todo e qualquer indivíduo na sua vida, mais do que gostaria (certamente), incorre em dar por si em situações menos infelizes. Resultam as mesmas decisões muitas vezes até bem intencionadas, com uma lógica válida, apesar de incompleta. Ou, em alternativa, existia consciência das possíveis consequências mas decidiram negligenciá-las, deixando a sorte jogar o seu hoje. Ora, como diz corretamente o português, ‘o diabo mora nos pormenores’, e as letras miudinhas em rodapé no contrato da vida fazem-se sentir, e damos por nós emaranhados na teia do ‘fogo, como é que eu saio desta!?’.
Na minha perspetiva, assumir consequências favorece o leitor a longo prazo mais do que deixar que o crime decorra até ao fim. Em ‘tribunal’ ou em matéria de consciência, não dormirá melhor o leitor com o peso de um crime menor!? Quero com isto dizer que os males, venham eles por bem ou não, são como um rio: mesmo quando interrompidos, chegam sempre ao seu destino, muitas vezes com mais controlo sobre a sua força e o seu impacto na foz e no leito do dito.
Mais acrescento que boas intenções nem sempre orientam a ação para o melhor dos nossos interesses. Creio que, perante essa circunstância, um erro só o seja quando sabendo do impacto da ação, a repete. Ou seja, o erro não é agir mal, é voltar a agir mal.
Um exemplo demonstrativo seria o de um dia importante no trabalho amanhã com uma farra na noite de hoje: se sabendo que amanhã tenho um dia de trabalho importante e que requer o melhor de mim, ir à bola até tarde pode não ser muito inteligente, mas é ainda menos ir para os copos logo depois.
Se é certo que algumas consequências podem ser mitigadas pela interrupção, também é verdade que outras são totalmente binárias. Se precisa de ir em jejum para umas análises, comer que seja uma pequena dentadinha faz o seu sistema digestivo trabalhar.
Como ainda não existem semi-jejuns, o estrago está feito, e amanhã será um novo dia com a oportunidade de jejuar.
Negar aos outros o usufruto de uma oportunidade ou de um prazer, tal como a nós próprios, é tudo menos apetecível. Ninguém gosta de evitar apetitosas tentações. No entanto, o caráter de um qualquer indivíduo pode medir-se pelas suas escolhas.
Contrariar as vontades a favor das estratégias é inteligente e constrói o caráter.
Principalmente para as gerações mais novas, que como eu, prezam imenso a liberdade e detêm-na como um dos seus valores mais importantes nas suas vidas, dizer ‘não’ resulta mais em foco, satisfação e realização do que em infortúnios arrependimentos. A verdadeira liberdade numas coisas é o resultado da restrição da mesma noutras. Escolha bem o leitor as que pretende usufruir, e as que deveria restringir. Liberte-se!