Está a ser um Campeonato do Mundo muito pouco habitual, ao ponto de adeptos de uma seleção celebrarem a sua derrota. O Irão não só foi eliminado do torneio, na terça-feira à noite, como perdeu por 1-0 perante o grande inimigo do seu regime, os Estados Unidos. Não só houve tensão entre adeptos a favor e contra o regime no Qatar, como um dissidente que sairá à rua a festejar, em Bandar-e Anzali, no norte do Irão, acabou por ser abatido com um tiro na cabeça pela polícia iraniana.
Mehran Samak, de 27 anos, oriundo de uma cidade maioritariamente guilaqui, uma minoria étnica iraniano, entrara no seu carro e atrevera-se a buzinar como forma de celebração. No seu funeral ressoaram cânticos dos populares entre os manifestantes que têm desafiado as autoridades iranianas desde a morte de Mahsa Amini, uma estudante curda de 22 anos que morreu nas mãos da infame polícia moral do Irão. “Vocês é que são sujos, vocês é que são imorais, sou uma mulher livre”, cantava a multidão no funeral de Samak, na quarta-feira, mostra um vídeo obtido pela BBC.
A seleção do Irão, comandada pelo treinador português Carlos Queiroz, obtivera a sua primeira vitória num mundial ao bater o País de Gales por 2-0, na sexta-feira. Mas mesmo a vitória causou perturbações, havendo relatos de que a polícia do Qatar – conhecido como um aliado próximo do Irão – tinha confrontado adeptos críticos do regime iraniano antes ou depois do jogo. Confiscando os cartazes ou camisolas com referência aos direitos das mulheres ou à morte de Amini, enquanto adeptos iranianos pró-regime filmavam ou insultavam os críticos.
Já as celebrações pela eliminação do Irão do torneio espalharam-se por todo o país, havendo imagens de multidões a cantar, saltar e dançar até em Teerão. É um péssimo sintoma para o regime, que apenas deixara mulheres entrar nos estádios de futebol em 2019, mas agora vê ruas cheias de gente a gritar: ”mulheres, vida liberdade”.
“O Irão é um país onde as pessoas são muito apaixonadas pelo futebol”, lembrou a jornalista iraniana, Masih Alinejad, no Twitter. Explicando que se celebrava a derrota porque a oposição “não quer que o Governo use o desporto para normalizar um regime assassino”.