Web Summit: vale mesmo a pena?

O maior evento da Europa dedicado à tecnologia continua a acontecer em Portugal. Motivo de orgulho e de alguma polémica. Pois então, interessa perceber o que traz para o país e para as pessoas que por lá passaram, mais de setenta mil de cento e sessenta nacionalidades diferentes. Será que vale mesmo a pena ir…

por Bruno Ribeiro

A resposta é fácil: sim, vale!

Não há outro evento do género que tenha a mesma dimensão, leia-se tantas empresas e personalidades ligadas ao setor, reunidas no mesmo espaço. A Web Summit é também um excelente evento para percebermos quais as grandes tendências da experiência online e como e quando estas tendências estarão acessíveis às pessoas e às empresas. É um espaço de networking e avaliação de novas ideias de negócios, normalmente com possibilidade de interagir com os criadores de cada uma dessas empresas. Além das palestras, umas melhores do que outras, como em tudo, vale bem o tempo investido.

Mas é caro, sobretudo para a realidade portuguesa. Se é fácil afirmar que vale a pena pelos conteúdos, crescimento da rede contactos e interação com uma infinitude de novas tecnologias e formas de olhar o mundo, mas quando consideramos um valor de mais de oitocentos euros para adquirir um bilhete a resposta já não é assim tão fácil. Depende do objetivo de cada um, que convém estar muito bem definido à partida. Ir para a Web Summit sem um plano, um mapa da mina que nos possa guiar pelos conteúdos que mais nos interessam, é garantia de vários quilómetros palmilhados e pouco conhecimento adquirido.

Para quem queria perceber o que é o metaverso, o tema do momento no universo digital, ficou claro que estamos numa fase exploratória, muito inicial. No evento foi possível conhecer várias experiências, desde lojas virtuais à manutenção de máquinas industriais, perceber que os serviços prestados por empresas ou até pelo próprio estado podem oferecer uma experiência muito mais rica no metaverso. E claro que a Web Summit não se resumiu ao metaverso. Participaram muitas empresas candidatas a financiamento que desenvolvem tecnologias para a saúde, plataformas de transação de criptomoedas, conteúdos e terminais de realidade virtual, soluções para utilização de dados, quase tudo com recurso a inteligência artificial. Mas não muito mais do que isso. Muitas empresas e ideias, mas um âmbito de atuação relativamente limitado.

A Web Summit é uma amostra, um espelho, do que se passa no mundo digital nos dias de hoje, muito conteúdo sobre um número limitado de temas. O excesso de informação e a necessidade de fazer escolhas, vencendo a angústia de não conseguir estar em todas. Informação condensada e concentrada em espaços delimitados. 1050 oradores, 20 minutos por conferência.

E depois? No rescaldo da Web Summit não sei o que fica. Certamente algumas empresas encontraram o parceiro de que precisavam ou investidor que lhes permitirá continuar a sonhar. Outras estabeleceram contactos que lhes vão abrir portas para desenvolverem os seus negócios com recurso a novas tecnologias, explorando novas geografias ou transformando as suas operações. E uma fábrica de unicórnios, se é possível que tal exista.

As startups são importantes para o desenvolvimento da nossa economia, sobre isso há poucas dúvidas. A Web Summit é um palco único para as conhecermos e termos exposição a novas ideias e conceitos de negócio.

O que fica da Web Summit? Não fica muito, as startups portuguesas de maior sucesso saíram de Portugal e as que se vieram apresentar no evento também não pensam ficar. A maior parte do talento humano que esteve em Lisboa no início de novembro já regressou aos seus países de origem. Acaba o evento, até para o ano.

A Web Summit vale a pena, mas podia, devia, valer muito mais.

 

Senior Manager da Accenture Song