por Luís Paulino Pereira
À semelhança do que tem acontecido com muitos portugueses, recebi através de sms uma convocatória para, de uma vez só, ser vacinado contra a gripe e receber a quarta dose contra a covid-19.
Aceitá-lo-ia com certeza na data proposta se, por ironia do destino, não viesse a contrair a doença precisamente nessa altura; doença contra a qual lutei este tempo todo, mas que havia de bater-me à porta decorridos quase três anos de pandemia! E ‘presenteou-me’ com tudo aquilo a que ‘tinha direito’, ou seja, com a sintomatologia respiratória habitual, à qual se associou, para o quadro clínico ser completo, a falta de gosto e de olfato.
Como seria de esperar, a minha mulher também não se livrou da doença, apesar de, no seu caso, o quadro clínico ser mais ligeiro e de curta duração.
Chegados ao laboratório do dr. Germano de Sousa, onde algumas vezes nos tínhamos deslocado para sermos testados – e que viria a confirmar a doença –, verificámos com surpresa que, em contraste com o movimento assustador nos picos da pandemia, desta vez aquele centro estava completamente vazio.
E porquê? A pandemia acabou? Já não são necessários testes? A covid-19 é uma doença do passado? Nada disso. A doença existe, continua no meio de nós, e o número de infetados é cada vez maior. Tudo isto se deve às novas variantes do vírus, que não param de nos atingir, e ninguém está livre de poder ser ‘contemplado’, mesmo com o esquema vacinal completo.
Então, se é assim, não vale a pena ser vacinado – concluirá muita gente, ao ter conhecimento das novas infeções em pessoas com todas as doses das vacinas. E é aqui que começa o problema, justamente por não haver uma voz de comando que esclareça e elucide a população.
Eu próprio senti isso na pele. Tudo me foi dito: que estava com uma vulgar gripe e que apenas precisava de uma máscara para continuar com a vida normal; que dentro de três meses devia ser vacinado com a dose agora em falta; que apenas fizesse a vacina da gripe passados quinze dias, esquecendo a da covid; que só podia ser vacinado quatro meses depois, fazendo as duas vacinas em simultâneo.
Depois, com o inquérito que me foi feito ao telefone, deram-me determinadas indicações – mas, no caso da minha mulher, essas indicações já eram diferentes, estando nós a viver o mesmo problema.
E como se tudo isto não bastasse para alimentar dúvidas, apareceram notícias dando conta de que a Entidade Europeia da Saúde afirmara de forma clara que a vacina covid não confere qualquer imunidade para a nova variante, com a concordância de alguns categorizados infecciologistas e cientistas, explicando o porquê dessa revelação.
Afinal, em que ficamos? Se, como médico, ainda tenho alguns conhecimentos na matéria que me permitem tirar conclusões, colocando-me na pele dos doentes vejo que sobre este assunto existe uma enorme confusão e muita coisa por esclarecer.
Utilizando uma linguagem muito comum em períodos revolucionários, apetece-me dizer: «O poder está prestes a cair na rua», com cada um a fazer aquilo que quer e a seguir o caminho que melhor entende, sem estar minimamente habilitado para tomar qualquer decisão.
Por aqui se vê a falta que faz uma voz de comando que explique de forma objetiva e sem rodeios aos portugueses aquilo que devem fazer e como deverão proceder.
É preciso dizer à população que testes devem ser feitos, que medidas devem ser tomadas em caso de positividade, e como devemos fazer com a vacinação. Não podemos continuar como até aqui com esta divisão de opiniões, e deixar seguir o caminho à livre consciência de cada um, pois está mais que provado que essa ‘liberalização’ leva quase sempre à desorientação, ao desnorte e ao arrastar dos problemas sem solução.
Aqui fica a minha chamada de atenção para o momento complicado que estamos a atravessar. É no mínimo desesperante ouvir vezes sem conta opiniões contraditórias sobre problemas de saúde, deixando as pessoas confusas e inquietas sem saberem como agir. Nenhuma instituição terá uma palavra a dizer, pergunto eu? Ficamos à espera.