Esta semana assisti ao seguinte episódio num restaurante: uma senhora entrou com os dois filhos, um recém-nascido no carrinho e o outro, de uns dois anos, pela mão. Sentaram-se numa mesa com a avó das crianças e entretanto o mais novo acordou e começou a espernear e a choramingar. Aquela impaciência e desconforto do bebé que parecia indiferente a todos, começava a causar-me alguma ansiedade. Até que, para meu alívio, o irmão foi ter com o bebé, agarrou-lhe nas mãos e começou a brincar com ele. Por uns momentos parecia ter sido a solução perfeita, até que a mãe se levantou e, com pouca paciência e visivelmente cansada, puxou o filho mais velho e levou-o para ao pé de si. Este, claro, começou a chorar e a gritar revoltado e enquanto a mãe tentava que ele ficasse sossegado para conseguir almoçar, ele tentava explicar-lhe o que tinha acontecido. Não sei se o irmão mais novo continuou a chorar ou não, porque a partir daí a minha atenção e angústia voltaram-se para o irmão mais velho que ficou, pelo menos até eu me ir embora, a chorar sem que o entendessem.
Idealmente, a chegada de um irmão é tudo aquilo que tentam vender ao que será o irmão mais velho: «Vais ter um irmãozinho com quem brincar, vais passar a ser o irmão mais velho e a ter muita responsabilidade (quer queiras, quer não), vais ajudar a mãe…». E as crianças ouvem aquilo tudo, muitas vezes ainda antes de o bebé nascer, sem perceberem bem o que ali vem. Muitas vezes devem pensar: «Mas para quê? Estava tudo tão bem. Nós os três em harmonia, as atenções todas só para mim, se é por mim não vale a pena…». E, no final, muitas vezes, as coisas não se passam como lhes foi prometido. Para começar esses bebezinhos que passam a ser os donos da casa são uns pequeninos ladrões, de espaço, de tempo e de atenção. Basta chorarem para parar tudo à sua volta, se têm fome, parece que o mundo vai desabar, têm atenção 24 horas por dia e quase todo o colo que até aí era só seu. Ao contrário do que dizem, os irmãos não vêm para brincar com eles. Chegam tão pequenos que mal se conseguem mexer e são tão frágeis que muitas vezes mal os irmãos se aproximam são afastados, com mais ou menos jeito, porque têm as mãos cheias de micróbios, porque os podem magoar, excitar ou acordar. Pela mesma razão também é difícil que possam cuidar deles e mesmo com a melhor das intenções ou das sensibilidades da parte dos pais, o irmão mais velho sente muitas vezes que passou para segundo plano, pelo que recorre ao que pode recuperar a atenção que sente fugir.
É como se o bebé fosse de cristal e o irmão de borracha. Nem sempre é fácil gerir as emoções de todos, mesmo com a maior boa vontade e disponibilidade. O nascimento de um irmão implica necessariamente uma mudança porque é um ser novo que entra na família. Para que esta entrada seja mais pacífica, é importante que o filho mais velho se possa aproximar, que o possa descobrir e que, ao mesmo tempo, consiga manter tudo o que tinha. Que não perca nada ou quase nada, para que a vinda de um irmão não pareça um roubo, mas um presente.
Com o tempo cuidarão um do outro e brincarão juntos. Podem tornar-se inseparáveis e vir a ser tudo o que tinha sido anunciado no início. Mas leva tempo, porque é um processo longo e complexo, que só pode ser acompanhado com calma, atenção e muito amor. Porque não só o recém-nascido não é só de cristal, como o mais velho não é só de borracha. Acima de tudo são ambos um pouco dos dois e precisam igualmente de atenção, compreensão e muito amor.