por Elsa Severino
Arquiteta paisagista
O clima influencia a vida na Terra; o ser humano, na sua vulnerabilidade, está exposto às condições climatéricas, por conseguinte, qualquer alteração pode determinar a sua sobrevivência, ou a vida tal como a conhecemos.
Perante esta ‘ameaça existencial à humanidade’ que nos é diariamente transmitida, e após a recente Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP27) – no Egito, temos a obrigação de distinguir entre alarmismo climatérico e realidade científica associada ao clima e às suas variações.
As temperaturas estão a subir? O nível do mar também? As secas, fogos e inundações são mais frequentes? As causas são unicamente devidas à ação humana, ou são também o resultado da dinâmica terrestre? Qual o papel dos combustíveis fósseis, e da emissão dos gases com efeito de estufa?
De que forma o clima tem mudado devido às ações humanas, é a pergunta chave que se impõe? É uma questão difícil de responder, sabendo nós que o efeito no clima devido à ação do Homem era quase nula antes de 1900, tende a aumentar até final do século XXI, mas ainda é ‘fisicamente pequena’, sendo que o facto mais relevante e preocupante é a ‘concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, devido à queima dos combustíveis fósseis’.
Sim, a temperatura aumentou devido a fenómenos naturais e à ação humana, principalmente desde 1950, mas a ciência diz-nos que o aumento assenta na temperatura mínima e não na temperatura máxima, logo, o clima tornou-se mais ameno, e não tórrido, como por vezes é apresentado. Dados recentes indicam que a temperatura subiu 1,1º C em 120 anos, sendo que ‘os oceanos são os responsáveis por mais de 90% do calor do clima’, pois cobrem 70% da superfície da Terra.
Quanto aos oceanos, o nível médio das águas aumentou 3mm por ano, desde o final do século XX, mas já estava a subir nos séculos XVIII e XIX, ‘sem intervenção humana’. Convém referir que o degelo começou há cerca de 20 mil anos.
Como vamos enfrentar as alterações climáticas naturais ou provocadas pelo homem?
Certamente através das novas tecnologias energéticas, que permitirão capturar o CO2 presente na atmosfera, uma crescente descabornização da indústria, e uma aposta nas energias renováveis, entre outras medidas. Mas há um papel que cabe aos países para enfrentar as mudanças climáticas e o modelo económico associado: certamente a mais óbvia será diminuir a dependência dos combustíveis fósseis, mas outras podem avançar, dependendo da vontade política para tal.
As nossas cidades, todas as cidades, libertam muito calor para a atmosfera; através de mudanças energéticas, assentes num ‘urbanismo verde’, essa libertação de energia poderia ser atenuada – seriam pequenos grandes passos para limitar o aquecimento global a 1,5°C (graus celsius) até 2050, ou 2°C (graus celsius) até 2075. Refira-se no entanto que alguns anos invulgares, ou fenómenos extremos como tempestades (recentes inundações em Lisboa) e/ou ondas de calor, não indicam alterações do clima, pois a sua avaliação tem der feita ao longo de décadas – uma média de trinta anos.
O urbanismo no litoral está ameaçado pela dinâmica do mar, devido à abusiva e negligente implantação dos edifícios, e não tanto pelo aumento do nível da água, que como vimos ainda tem pouca expressão.
O ordenamento do território, assente numa reflorestação após cada incêndio, ou na criação de vastas matas, garantiam um ambiente mais favorável ao ser humano. A retenção da água no solo, a captura do dióxido de carbono (CO2) e a libertação de oxigénio, além dos aspetos económicos, são as inúmeras vantagens por todos reconhecidas.
A água no solo português tem vindo a diminuir nas últimas décadas; as barragens tiveram o seu papel, mas a supressão das matas autóctones foram determinantes, além da procura excessiva dos recursos aquíferos. Um solo seco, sem vegetação, liberta todo o calor proveniente da energia solar, com os efeitos que se conhecem.
Estas mudanças não impedem o clima de mudar, pois há os fenómenos naturais próprios da dinâmica terrestre, mas tornam o ambiente mais adequado à espécie humana; acima de tudo, é um dever da nossa espécie incrementar as melhores condições de vida no planeta, preservando e valorizando os ecossistemas.
O clima é um dos muitos fatores que influencia o desenvolvimento económico e o nosso bem-estar; infelizmente temos observado como a guerra influencia negativamente todos os aspetos da nossa vida, mais do que qualquer projeção atribuída às alterações climáticas.
Os impactos de um ‘clima em mudança’ serão muitos, mas, segundo um relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC), das Nações Unidas, o maior risco para a humanidade é a pobreza, especialmente nos países menos desenvolvidos.
Em Portugal há dois milhões de pobres…
BIBLIOGRAFIA
A Ciência do Clima;
Steven E. Koonim;
Résister au désastre;
Isabelle Stengers
Trente-trois questions sur l´histoire du climat; Emmanuel Ladurie
