É conhecida pelas suas baladas que facilmente transportam quem as ouve até lugares de amor, quer sejam sofridos, quer sejam felizes. Aliás, defende que não é arcaico nem fora de moda falar desse sentimento que, segundo a mesma, nos move. «Acho que as pessoas não se cansam destas músicas justamente porque falam de amor», defende em algumas entrevistas, falando do sucesso do seu trabalho. Além disso, acredita que «nenhuma montanha é tão alta que tu não a consigas escalar». «Tudo o que tens de fazer é ter um pouco de confiança. Nem um rio é tão imenso que não o consigas atravessar. Tudo o que tens de fazer é acreditar», defende. Porém, aos 54 anos, ao que parece, a vida acabou por lhe pregar uma partida e, desta vez, infelizmente, talvez não seja suficiente acreditar ou ter um pouco de confiança.
Céline Dion revelou na quinta-feira, 8 de dezembro, que sofre de uma doença neurológica rara chamada Síndrome da Pessoa Rígida (SPR). O diagnóstico foi partilhado pela cantora canadiana num vídeo na sua conta de Instagram, onde esta explica que terá de adiar a digressão europeia que estava agendada para a primavera de 2023, por causa da patologia neurológica com características de doença autoimune que a impede de cantar e até andar, já que se caracteriza por espasmos musculares incontroláveis.
«Há muito tempo que tenho vindo a lidar com problemas de saúde. Tem sido muito difícil para mim enfrentar estes desafios e falar sobre tudo o que tenho passado», começou por contar no vídeo. «Recentemente, fui diagnosticada com um distúrbio neurológico muito raro chamado Síndrome da Pessoa Rígida, que afeta cerca de uma pessoa em cada milhão. Enquanto ainda estamos a tentar conhecer mais sobre esta condição rara, agora sabemos que é a causa de todos os espasmos que tenho tido», continuou a artista. «Infelizmente, esses espasmos afetam todos os aspetos da vida diária, às vezes causando dificuldades quando ando e não me permitindo usar minhas cordas vocais para cantar da maneira que estou habituada», revelou em lágrimas, acrescentando que «dói dizer-vos que tal significa que não estarei pronta para reiniciar a minha tour, na Europa, em fevereiro». «Tenho uma grande equipa de médicos a trabalharem comigo para me ajudarem a melhorar e os meus filhos preciosos que me apoiam e me dão esperança», afirmou, admitindo que «tem sido uma luta».
Desde novembro do ano passado que a cantora de ‘My Heart Will Go On’ não está bem – Céline Dion adiou a digressão norte-americana pela primeira vez devido a espasmos musculares.
Nessa altura, alguns dos seus familiares revelaram que a artista estava a sofrer com espasmos musculares «muito graves e persistentes». «Ela não consegue nem mover-se, nem andar. Sofre de dores nas pernas e nos pés que a paralisam. Ela está muito fraca e perdeu muito peso», contou à época um membro da família à revista Here. «É uma doença que pode exigir uma longa convalescença. Se as coisas não melhorarem, ela pode ficar afastada vários meses ou mesmo um ano. Os sintomas são mais preocupantes do que inicialmente se pensava», adiantou ainda.
Agora, e tal como explica a cantora, a carreira ficará suspensa. Contudo, Céline Dion promete trabalhar com o terapeuta da medicina do desporto para que lhe seja possível reverter a situação: «Não tenho solução a não ser concentrar-me na minha saúde e confiar que vou voltar à estrada. Estou a fazer tudo o que posso para o conseguir», garantiu ainda na publicação do Instagram.
Doença rara e os sintomas
Segundo a Sociedade Portuguesa de Neurologia, esta doença é caracterizada pela rigidez muscular progressiva e espasmos dolorosos, «com envolvimento predominante dos músculos axiais e proximais dos membros». De acordo com o mesmo documento, «a literatura relativa a este assunto ainda é escassa e, por se tratar de uma entidade rara, é pouco reconhecida e provavelmente subdiagnosticada».
Além disso, como escreve o Instituto Nacional de Distúrbios Neurológicos, dos EUA, esta patologia manifesta-se também com «uma sensibilidade aumentada a estímulos como ruído, toque e sofrimento emocional, que podem desencadear espasmos musculares».
«As pessoas com a doença podem ficar incapacitadas para andar ou mexer-se, ou terem medo de sair de casa porque os ruídos da rua, como o som de um apito de um carro, por exemplo, podem desencadear espasmos e quedas e, com isso, risco de lesões graves», detalha a entidade, acrescentando que, apesar de não haver cura para a síndrome, «existem tratamentos que incluem medicamentos anti-ansiedade e relaxantes musculares , que podem retardar a sua progressão».
Estima-se que aproximadamente um num milhão de indivíduos da população em geral tenha esta doença. Sabe-se também que a doença ataca sobretudo o sexo feminino e, por norma, manifesta-se entre os 30 e os 60 anos de idade.
No caso de Céline Dion, os especialistas acreditam que a doença foi causada por um grande stress emocional acumulado ao longo dos anos, principalmente durante a sua carreira com mais de 35 anos.
Recorde-se que o marido da cantora, René Angélil – que era também o seu manager –, morreu em 2016, vítima de um cancro na garganta, aos 73 anos. Dois dias depois, a artista perdeu também para um cancro um dos seus 13 irmãos, Daniel Dion, que tinha 59 anos.
Em agosto de 2015, ao programa de televisão americano USA Today, Céline Dion contou: «Já perguntámos aos médicos muitas vezes quanto tempo lhe resta. Três semanas, três meses? O René quer saber. Mas eles dizem que não sabem». O marido da cantora resistiu mais cinco meses e, felizmente, terá morrido, segundo a artista, «como queria»: nos seus braços. A artista revelou ainda, na entrevista que concedeu à jornalista Deborah Roberts, da ABC News (a primeira entrevista desde a morte do empresário), que se deitou ao lado do marido depois de este morrer, colocando um robe sobre o seu corpo.
Amor e carreira de mãos dadas
Céline conheceu René quando tinha 12 anos, e ele, 38. Depois de ouvir a voz da jovem numa fita enviada por um dos seus irmãos, o renomado empresário convidou-a para uma audição no Quebec. A partir desse momento, começou a gerir a carreira de Céline, depositando não só todas as suas esperanças na menina, como também todo o seu dinheiro – René até hipotecou a sua casa para financiar o seu primeiro álbum em 1981.
Quando atingiu a maioridade, de acordo com a sua biografia, a cantora começou a olhar para o seu agente de forma diferente. À noite, confidenciou, enfiava uma fotografia daquele que seria o seu futuro marido debaixo da almofada, escondendo-a da mãe com quem dividia o espaço. «Era cada vez mais difícil esconder de mim mesma o facto de estar apaixonada por René. Tinha todos os sintomas… Estava apaixonada por um homem que não podia amar, que não queria que eu o amasse, que não me queria amar», contou.
Os dois trabalhavam e passavam muito tempo juntos e foi em 1988 que René deu o primeiro passo para algo mais. Em Dublin, a propósito da Eurovisão – concurso do qual Céline saiu vencedora –, em vez de um beijo de boa noite na bochecha, o manager mostrou que o sentimento era recíproco e, a partir desse momento, «tudo mudou». Porém, durante vários anos, o relacionamento era oficial apenas para amigos e familiares, tendo em conta o receio que tinham da reação do público, já que apresentavam uma diferença de idades de 26 anos.
Aos 19 anos, Céline revelou à mãe aquilo que sentia por René. Numa entrevista com Billy Bush e Kit Hoover, do Access Hollywood, em 2013, a artista contou que, no princípio, esta era contra o relacionamento. «Tenho de admitir que, para a minha mãe, ele não era o príncipe encantado ideal. Foi muito difícil», disse. «Foi talvez aos 17, 18 anos, que os meus sentimentos começaram a mudar. Via-o de forma diferente», continuou. «Foi quando tinha 19 anos que lhe disse que tinha sentimentos muito fortes por ele, que já tinha sido casado duas vezes e tinha já três filhos», revelou, detalhando que a mãe não ficou nada contente. «Fiquei muito frustrada e chateada com a minha mãe no começo. Eu disse-lhe que isto não era apenas uma coisa maluca. Era real!», lembrou. «Ela tentou mostrar-me que ele já tinha tentado duas vezes, que tinha três filhos e, por isso, que não era confiável», acrescentou.
Eventualmente, René ganhou o amor de toda a sua família: «Ela não teve escolha. O amor venceu!», afirmou Céline, acrescentando que, cerca de 10 anos depois, finalmente entendeu por que é que a sua mãe estava tão preocupada. Como mãe de três rapazes (René e Céline tiveram três filhos, René-Charles e os gémeos Nelson e Eddy), a artista admitiu na altura que não seria tão compreensiva quanto a sua mãe se um dos seus filhos quisesse casar-se om uma mulher tão mais velha, divorciada duas vezes e com filhos.
Quando Céline fez 25 anos, o casal ficou noivo, tornando o relacionamento público. E, em dezembro de 1994, disseram o ‘sim’ na Basílica de Notre-Dame em Montreal, no Quebec.
No ano passado, cinco anos após a morte do produtor musical, a cantora continuou a chorar a sua morte. Numa entrevista à televisão americana, no programa Today, em lágrimas, Dion garantiu que René, o homem de sua vida, ainda estava muito presente na sua vida e na dos seus filhos. «Perder o meu marido, ver os os meus filhos a perderem o pai, foi muita coisa. Tenho a impressão de que o René me deu tanto e durante tantos anos…. E continua a fazê-lo até hoje», afirmou. «Ele faz parte das nossas vidas todos os dias. Tenho de admitir que, por causa disso, sinto-me muito, muito forte», garantiu. «Não sei se vou encontrar o amor de novo, não faço ideia. Acho que não. Não para um relacionamento ou para me apaixonar novamente», disse.
Apesar de ser considerada uma das maiores divas da música com maior sucesso, ao longo da vida, Céline Dion sofreu muito. Em criança, por exemplo, além de ser vítima da maldade dos colegas de escola, viu a família perder quase tudo num incêndio. Anos mais tarde, quando tentava engravidar de René, só à sexta tentativa é que viu o processo de fertilização in vitro a que foi submetida ter êxito.
Em 2019, altura em que lançou o seu disco Courage, a artista confessou que «todos atravessamos momentos difíceis, como acontece quando perdemos alguém». «Nessas situações, temos de lutar. A vida impõe-nos coisas. No meu caso, penso que me pôs à prova muitas vezes», lamentou. «A vida e a minha família, a forma como fui criada, deram-me ferramentas para encontrar a minha força interior e a minha coragem para poder continuar», acredita.
Esperemos que tudo isso seja o suficiente para fazer com que a intérprete de êxitos globais como ‘I’m your angel’, ‘Because you loved me’ e ‘All by myself’, regresse aos palcos e cante o amor que carrega no peito.