Todos os anos quando começam os ensaios para as festas de Natal surge-me a dúvida: será que compensa fazer estas festas com tudo o que elas implicam, como o trabalho exaustivo e os ensaios cansativos e repetitivos durante semanas a fio?
Tudo começa com o entusiasmo inicial de projetar a festa: escolhem-se os cenários, as roupas, as músicas, as danças, as falas, as peças e começam os ensaios. Se no início as coisas correm bem, facilmente o período de ensaio entra numa rotina difícil e por vezes tensa. São inevitavelmente todos os dias as mesmas músicas, os mesmos passos, as mesmas falas, repetidas à exaustão. As crianças começam a ficar cansadas e os adultos preocupados. O dia da festa começa a aproximar-se e a dada altura parece que vai ser tudo um desastre, os responsáveis não querem que os mais pequenos façam má figura, nem dececionar os pais, mas nem sempre corre tudo como é esperado. Geralmente há um ou outro imprevisto, algumas crianças faltam porque estão doentes, outras nem sempre colaboram como é esperado ou colaboram à sua maneira. E já se sabe, quanto mais cansadas, mais distraídas e menos empenhadas, e por seu lado os adultos mais tensos e receosos. Mas estes enchem o peito, cruzam os dedos, respiram fundo e vão dando a volta: vai correr tudo bem! Toda esta azáfama e nervosismo deve-se somente ao empenho de todos e à vontade de que corra tudo pelo melhor. Enquanto na escola a dedicação é total, em casa começamos à procura da roupa que pediram para a festa e a ouvi-los cantarolar bem-dispostos sempre a mesma música.
Até que chega o grande dia. O entusiasmo está ao rubro e o nervosismo aguça-se, surge o frio na barriga, as crianças ficam em pulgas e os adultos concentram-se para que tudo corra bem. E é aí que entramos nós, os pais. A sala enche-se, os adultos apertam-se, esticam-se, espreitam entre as inúmeras cabeças e começam a tirar os telemóveis do bolso. Corra bem ou mal, aquele momento tem de ser guardado para sempre. Entretanto começa o espetáculo. As crianças nervosas entram uma a uma, enquanto vão procurando e descobrindo os pais, avós e irmãos entre a plateia. Há acenos, sorrisos e choros. Os orientadores vão dirigindo e apoiando a encenação como podem, nós vamos ouvindo o ponto aqui e ali, mais uns braços no ar para lembrar a coreografia e as crianças fazem o seu melhor. Mesmo que faltem falas, que troquem passos ou que esteja tudo absolutamente ao contrário do esperado, aos olhos entusiasmados e emocionados da família parece tudo perfeito e aqueles momentos de silêncio em que se esquecem das falas, quando chamam pelos pais ou quaisquer outras situações inesperadas, fazem as delícias de todos que reagem com uma gargalhada ou um «Ohhhh!» cheio de ternura. Na verdade, do outro lado não sabemos o guião e parece-nos tudo perfeito. E mesmo que soubéssemos pareceria na mesma.
Todas as festas são seguidas com entusiasmo e emoção. Eu, pessoalmente, mal se abrem os cortinados e vejo as crianças pequeninas a entrar naqueles fatos amorosos, a falar ou cantar com aquela vozinha doce e inocente, começo a ficar com os olhos cheios de lágrimas. E no final todas as festas correm bem! Terminam com um longo e comovido aplauso, as crianças saem delirantes, os pais felizes e orgulhosos e os promotores contentes e aliviados.
Afinal vale sempre a pena! E nós agradecemos muito o amor, empenho e dedicação.
Umas boas Festas!