Não é preciso lembrar, pois não deve haver ninguém que não fale dele nem tenha já os seus planos para melhor o comemorar.
Libertos, embora não totalmente, dos efeitos dessa tenebrosa pandemia que, nos dois últimos anos, impediu que celebrássemos esta quadra como estávamos habituados, preparamo-nos agora para a viver como nos outros tempos – em que a família reunida aguardava a chegada do Menino Jesus.
Aliás, sempre se associou o Natal à família, à imagem da Sagrada Família de Belém, que se espalhou pelo mundo inteiro e se fixou nos lares dos crentes e não crentes. Talvez por isso – e pela falta que sentimos desta festa familiar que a covid-19 nos roubou -, olhamos este ano para o Natal com outras expectativas e redobrado entusiasmo. Eu próprio quero ser otimista e acreditar que 2023 vai mesmo ser diferente e terá um sabor especial. Deus o permita.
Porém, analisando este tema enquanto profissional de saúde, sou um pouco mais cauteloso nas minhas avaliações. Livrámo-nos, é certo, da pandemia, mas não nos livrámos do vírus – que continua por aí, com as suas variantes, pronto para novas infeções quando menos se espera.
O número de novos infetados é a prova evidente de que não podemos nem devemos abrandar a vigilância ainda que, de momento, o panorama seja mais animador do que há um ou dois anos. E é isso que se pretende. Tal como a gripe que todos os anos nos ‘castiga’ nesta época, vamos ter de conviver também com este novo vírus e, sabe-se lá, com quantos outros mais, pelo que temos de preparar e encarar esta nova realidade seriamente e com sentido de responsabilidade.
Estou sempre a recomendar aos doentes que não devemos delegar nos outros ou nas instituições aquilo que nós temos obrigação de fazer. Há coisas que dependem só de nós, e é a nós que compete resolvê-las.
Por exemplo, a higiene frequente das mãos é essencial; ora, será que ainda ligamos muito a isso?
A máscara nos recintos fechados e com muita gente, apesar de já não ser obrigatória, não devia merecer da nossa parte uma atenção especial? Não seria suposto estarmos preparados para o frio do inverno e utilizarmos vestuário próprio e não nos vestirmos como se estivéssemos no verão? Não é nossa obrigação, para defendermos a nossa saúde, estarmos vacinados contra as doenças em que há vacinas para as combater? Vamos ser postos à prova nas festas e nos espetáculos infantis que se aproximam, bem como em todos os ajuntamentos próprios da quadra natalícia. Aí, sim, será testado o nosso comportamento e o nosso civismo.
O Natal está à porta! Agarremos esta oportunidade para o viver plenamente e não apenas de forma superficial e sem sentido como muita gente faz, quando ao nosso lado nem todos têm o direito de o celebrar.
Recordemos o povo ucraniano que, de repente, se viu sem família, sem lar, a quem foi roubada a esperança e a alegria de viver. Estará comigo à minha mesa de Natal e tê-lo-ei presente junto ao presépio, acreditando que o Menino Jesus se lembrará dele.
E como médico, recordo todos os doentes, os que estão em lares abandonados à sua sorte, os que estão sós e para quem a vida já pouco diz, e os que passam a vida a estender a mão à caridade.
Nós, os que ‘escapámos’ e continuamos livres destes males maiores, em vez de nos lamentarmos por tudo e por nada, sempre insatisfeitos com a ‘sorte’ que nos toca, vivamos esta quadra com verdade, solidariedade e esperança.
O Natal está à porta! À porta do coração de cada um. Vamos abrir essa porta e deixar entrar a luz que traz consigo a Paz, a Alegria e o Amor de que tanto necessitamos. A todos os leitores aqui ficam os meus votos de Boas Festas e de um Santo Natal.