por Pedro do Carmo
Presidente da Comissão Parlamentar de Agricultura e Pescas
Agora que o consumo ganhou uma relevância central nas tradições de Natal, superando a dimensão simbólica religiosa e as raízes de muitas das dinâmicas comunitárias locais, é importante reforçar o desafio da comunicação em torno da produção e da promoção dos produtos nacionais que poderão marcar lugar na mesa dos portugueses. É certo que o dinheiro na carteira e a oferta disponibilizada pela distribuição determinam boa parte das opções de compra, mas nada como combater o preconceito e a desinformação para valorizar o que é produzido pelos nossos agricultores e produtores do mundo rural, com menor pegada ecológica.
Sim, as preocupações ambientais estão há muito incorporadas na produção dos bens alimentares em Portugal, em boa parte das atividades desenvolvidas.
Sim, consumir produtos nacionais significa que a distância entre o produtor e o consumidor foi menor, com menos transporte e maior confiança nos métodos de produção e na qualidade do produto.
Sim, a generalidade dos métodos de produção nacionais é concretizada com equilíbrio, diversidade e sustentabilidade, com noção dos impactos da atividade na natureza e nos processos de regeneração que têm de ser tidos em conta para o meio ambiente.
Temos um problema de escala, de dispersão de esforços na afirmação das marcas e de hábitos de consumo pouco informados ou determinados pelos recursos disponíveis, mas Portugal faz bem, produz com qualidade e sustenta boa parte das dinâmicas locais a partir da atividade agroalimentar.
Consumir nacional é estratégico para o país, mas tem de ser assumido pelo consumidor com maior informação sobre o processo produtivo, que gere confiança e mobilize a população a adquirir e a exigir maior oferta do que é nosso.
Este é um desafio do Estado, mas sobretudo dos produtores, incorporando esta dimensão de comunicação e de informação na afirmação das suas posições e dos seus produtos. Consumidores informados, conscientes do processo produtivo, das práticas e da diferenciação do produto nacional, estarão menos disponíveis para modernices pseudo ambientais sem nexo, extremismos de quem vive em espaço urbano ou delírios de quem não tem noção das dinâmicas do território rural e do desafio permanente das vivências fora dos grandes centros urbanos.
A sustentabilidade, em todas as dimensões, é um desafio assumido por todos como vital para as atividades humanas na produção alimentar.
Sustentabilidade no processo de produção também ele confrontado com custos que colocam grandes desafios a quem produz, da energia aos combustíveis, dos fertilizantes às sementes.
Sustentabilidade no processo produtivo com as melhores práticas ambientais tradicionais de harmonização com a natureza, existentes muito antes destas revoadas de consciência ambiental vigente.
Sustentabilidade na afirmação da produção e da distribuição com informação sólida sobre o processo, que suscite confiança e compromisso com os consumidores, ao longo do ano e não apenas na Páscoa, no Natal ou noutros momentos especiais.
Consumir nacional tem de ser interiorizado e valorizado nas opções dos portugueses, como parte importante da manutenção de uma soberania alimentar que não choca com a nossa integração na União Europeia.
É verde ter estados membros com capacidade produtiva reforçada nas interações entre produtores, distribuidores e consumidores.
Também no Natal, é consumir nacional.