Lula da Silva assume semana que vem já em meio a uma crise entre componentes da ampla aliança que o elegeu. As indicações na área económica desagradaram o centro e, principalmente, os meios empresariais, com reflexos na Bolsa e no câmbio. Criar 16 ministérios também gerou mal-estar e, mesmo assim, não conseguiu atender a demanda dos políticos. O núcleo duro do PT e partidos de esquerda reagem a nomeações indicadas pelos partidos de centro, que o governo precisa para governar. O perfil técnico, que o momento pede, acabou não prevalecendo. O empresariado não gostou da indicação de Aloizio Mercadante para o BNDES, maior banco de fomento do país. Mercadante é um fundador do PT de notória formação marxista e Lula, ao anunciar a escolha, afirmou que não iria privatizar nada em seu governo. Fernando Haddad tem boa postura, mas acha que endividamento público ou emissão de moeda para gastos não gera inflação. Acredita que tem onde cortar despesas.
Logo no primeiro dia, estão previstos decretos revogando alguns legados do governo que sai. As normas para o porte de armas é uma delas. Desarmar os que estão autorizados, em país onde a violência é um fato e no interior se impõe porte de arma para agricultores, vai gerar forte descontentamento. No governo Bolsonaro, mais de um milhão de brasileiros passaram a ter autorização para ter uma arma em casa ou poder portar. Outra medida que formaliza um governo com forte ligação ideológica é a de não se contratar médicos cubanos que ficaram no Brasil quando Bolsonaro cancelou o contrato com Cuba. Um quarto deles pediu asilo, apesar das retaliações a seus parentes. Os médicos custavam cerca de dois mil e quinhentos dólares per capita, mas recebiam menos de um quinto deste valor. E eram controlados por funcionários cubanos que detinham seus passaportes.
Reconhecer o governo da Venezuela, de Nicolás Maduro, é ato previsto para a primeira semana. Muitas frentes de conflito para um governo que está começando.
VARIEDADES
• As vendas de Natal foram positivas para o comércio. E o setor do turismo vive um grande momento. Hotéis lotados para o final de ano em São Paulo, Brasília, Rio, Salvador e Recife. A costa do Estado do Rio – Angra dos Reis ao Sul, Cabo Frio e Búzios ao norte – deve receber mais de dois milhões de turistas para o final do ano.
• O mercado editorial está comemorando as vendas de livros. As principais redes, como Cultura, Nobre e Travessa, chegaram perto do último Natal antes da pandemia.
• Os sucessores do Antiquário, o restaurante português de excelência que o Rio deve ao 25 de Abril, inicialmente com o pessoal da Pousada de Elvas, foi desdobrado em três casas pelos seus antigos empregados. O Gajo d’Ouro é um deles e reabre esta semana numa casa ao lado da Galeria Ipanema, próximo à praia de Ipanema.
• A presença do setor privado na extração de urânio pode fazer o Brasil autossuficiente. Mas as empresas investidoras esperam um posicionamento do novo governo.
• Margareth Menezes, uma cantora baiana, negra, será ministra da Cultura. Assim, Lula atende a duas promessas de campanha, que são a presença de mulheres e de negros na alta administração. O ministério é um dos que vão ser criados.
• A Bienal de Veneza de 2024 terá a Curadoria de Adriano Pedrosa, diretor de arte do MASP – Museu Assis Chateaubriand -. Será o primeiro latino-americano a exercer a função.
• A Petrobrás perdeu nada mais nada menos do que quarenta mil milhões de euros em valor de mercado entre a eleição e o dia 19 último.
Rio de Janeiro, dezembro de 2022