por Elsa Severino
Sócia-gerente do Gab. Arq. Paisagista Caldeira Cabral & Elsa Severino
elsaseverino@gmail.com
O Centro Cultural localiza-se em Belém, junto ao Tejo, numa zona que é designada por “ Museums and Monuments District”, tal a importância monumental em causa. Na envolvente próxima destacam-se o Mosteiro dos Jerónimos, o Padrão dos Descobrimentos, a Torre de Belém, o Palácio de Belém e o Museu da Presidência, além dos recentes Museu Nacional dos Coches, e o MAAT (Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia), assim como os Jardins Botânicos da Ajuda e o Tropical. O Museu da Marinha e o da Arqueologia integram este conjunto, alicerçados na História dos Descobrimentos Portugueses.
A 10 de agosto de 1993, abriu como “centro cultural e de conferências”. Foi no entanto pensado para acolher a primeira Presidência Portuguesa do Conselho das Comunidades Europeias, que decorreu entre 1 de janeiro e 30 de junho de 1992, sob o tema “Rumo à União Europeia”, mas também com o objectivo de “reforçar as relações com o resto do mundo”. Cumpriu-se mais uma vez o desígnio deste lugar – o seu genius loci.
Os Jardins
A arquitetura modular, determina um conjunto de jardins a vários níveis, que se organizam do seguinte modo:
– o espaço exterior fronteiro à Praça do Império e à Av. da Índia;
– o percurso pedonal, ligando a Praça do Império ao Bairro do Bom Sucesso;
– os jardins em terraço;
– os pátios interiores.
Uma diversidade de lugares, com o propósito de unir o museu aos seus jardins, também eles motivo de visita e interesse. O jardim não está na dependência do museu, mas é em si um valor, uma obra de arte “viva”.
O espaço exterior ao Centro Cultural contempla largos passeios e uma plantação de árvores-Chorisia speciosa, no separador central do arruamento paralelo à Praça do Império. Esta escolha envolveu alguma polémica, pois a autarquia impôs uma espécie exótica, de grande porte, o que na opinião de Francisco M. Caldeira Cabral impediria a ligação visual ao Mosteiro dos Jerónimos. Acontece que estas árvores não se desenvolveram como seria de esperar, e o seu efeito “perturbador” acabou por não acontecer.
O grande eixo pedonal garante o acesso principal ao edifício, para quem vem dos Jerónimos e da Fonte Monumental e faz-se através de uma sequência de espaços cobertos e descobertos que vão desembocar na grande – Praça do Museu.
Acede-se a esta por ampla escadaria e, a partir daqui, podemos visitar o centro de exposições – Museu Berardo, a norte, e o centro de reuniões, a sul. Este amplo espaço a céu aberto, quadrangular, luminoso, acolhe também exposições ao ar livre e muitos outros eventos. A sul da praça, virados ao Tejo, encontramos os belos jardins do Centro Cultural de Belém – O “Jardim das Oliveiras” e o pátio do pequeno auditório.
O Claustro da entrada principal, a céu aberto, é envolvido por lojas e por um imponente Jardim Vertical. Este, projetado por Francisco M. Caldeira Cabral, assinalou a efeméride “Lisboa- Capital Verde Europeia 2020” e mantém-se desde então, chamando a nossa atenção para a indispensável presença da natureza, apesar do meio artificial em que se insere.
O Jardim das Oliveiras
Este é o jardim mais emblemático do museu. Virado ao Tejo, beneficia de uma boa exposição solar, além da relação visual, próxima, com o rio e com o Padrão dos Descobrimentos. A imagem da água prolonga-se no jardim através de um canal que alimenta tanques, que por sua vez determinam outros jardins com palmeiras, oliveiras e canteiros de plantas. Todo este espaço ajardinado está construído sobre a cobertura das garagens; neste sentido idealizaram-se cômoros para a plantação das oliveiras, árvores estas que deram o seu nome ao lugar. Apesar do artificialismo do meio, foi possível, através de meios técnicos muito rigorosos construir um jardim com um futuro longo, pois conta com três décadas de existência, milhares de visitantes e palco de muitos eventos. Tudo isto, a par de uma composição em harmonia com a arquitetura e com o rio próximo, tornaram-no num dos espaços mais procurados de Lisboa.
Jardins a Norte
Têm a função de enquadramento visual do museu; beneficiam da vista sobre o Mosteiro dos Jerónimos e da Praça do Planetário da Marinha, da autoria de Gonçalo Ribeiro Telles. A presença da água contida em tanques de pequena profundidade refletem o edifício e a vegetação próxima. No Verão é muito frequentado, pois torna-se mais ameno devido à exposição norte; a sua relação com a sala de exposições também o privilegiam, pois em inúmeras ocasiões é o prolongamento do museu, com esculturas expostas nos relvados. Passados trinta anos desde a abertura ao público, a vegetação atingiu um porte considerável; destacam-se palmeiras (Trachycarpus fortunei e Chamaerops humilis), ciprestes, além de uma mancha de Metrosideros excelsa que asseguram a proteção dos ventos dominantes.
Os pátios interiores
Situam-se no piso térreo e garantem a entrada de luz aos vários gabinetes. A diáspora portuguesa foi aqui retratada através de uma composição, que reflete a influência oriental na arte dos jardins em Portugal. As ondas em pedra, as rochas, a vegetação à base de fetos arbóreos, azáleas (Azalea japonica) e Acer rubrum, definem o conjunto.
Aproxima-se a época natalícia, tempo de esperança e de renovação. Em Portugal, podemos celebrar esta data em paz e harmonia; no dia de Natal revemos familiares, mas também passeamos nas cidades e visitamos museus; o Centro Cultural de Belém acolherá os visitantes que ali se dirijam, num Portugal em paz. Nada desta agradável rotina está garantida, como se demonstra na inesperada guerra que lastra num país europeu – a Ucrânia. A paz, a democracia, a liberdade, são valores que todos os dias têm de ser trabalhados e conquistados.
Visite os museus, fiéis depositários da nossa memória coletiva, e lembre-se quão importante e efémero isso pode ser. l
Arquitetura: Vittorio Gregotti e Manuel Salgado
Jardins: Francisco M. Caldeira Cabral