Há quem espere por esta data o ano inteiro. Quer pela atmosfera que se vive, com as ruas iluminadas, as casas decoradas e as canções que ecoam pelos espaços, quer pela comemoração do nascimento do menino Jesus (para os religiosos) ou pela entrega das prendas e a chegada do Pai Natal que, por norma, fazem brilhar os olhos dos mais novos.
A poucos dias do Natal, o caos já impera no Colombo, um dos maiores centros comerciais da Península Ibérica. O calor contrasta com o tempo lá fora, as músicas das lojas são familiares a quase todos que, entre dentes, cantam baixinho, como quem não resiste a um Jingle Bell. Mas apesar dos enfeites que dão um toque de magia à superfície, nos corredores são os carrinhos cheios de presentes que saltam à vista.
Quem entra no Continente é confrontado, da mesma forma, com pilhas cheias de todo o tipo de brinquedos para as crianças. Ursos gigantes de peluche, Barbies, Legos, Pistas de Carros, Nenucos, entre outros tantos – um mundo dentro do próprio mundo.
Segundo o KuantoKusta, considerado um dos canais mais influentes do e-commerce do país, este ano, os consumidores preparam as compras de Natal já desde outubro e, apesar de sabermos que muitos as deixam para a última da hora, foi em novembro que se sentiu o aumento da procura, quando comparado ao ano anterior.
Ao entrar na Toys R us somos, porém, surpreendidos com bastante espaço para circular. Já terão as pessoas comprado tudo o que necessitam? Ou este ano estão mais regradas nas compras? «Não notamos que haja um decréscimo nas compras, mas sim uma mudança de comportamento face ao ano passado», afirmou o KuantoKusta ao Nascer do SOL. Contrariamente a 2021, em que havia condicionamentos ainda por causa da pandemia da covid-19, os consumidores estão a voltar às lojas físicas. «Não abandonaram as compras online, pelo contrário. Incorporaram-no nos seus hábitos de compra e este foi um comportamento que veio para ficar em muitos consumidores que funcionam agora num regime híbrido – pesquisam online sobre os produtos, os preços e as disponibilidades de stock, por exemplo, e efetivam as compras numa loja física, ou o contrário viram os produtos em lojas físicas e depois efetivam as compras no digital», explicou, destacando que há uma preocupação em acompanhar a evolução dos preços e em identificar reais oportunidades de compra, «mesmo que isso signifique antecipar as compras».
Brinquedos mais caros
Numa análise comparativa à procura entre a última semana de outubro e a primeira de novembro, os resultados foram essencialmente os seguintes: as bonecas estavam em média a +352%, as bicicletas para crianças +320%, outros veículos infantis +176%, casas para bonecas +165%, casinhas de brincar +120% e os Legos +112%.
Comparativamente ao ano anterior, está quase tudo mais caro. Se em 2021, em brinquedos de bebés (como brinquedos interativos, ginásio de atividades, cavalos de baloiço, etc.), os portugueses gastaram em média 35,15 euros, este ano o número aumentou para 37,58, ou seja, mais 6,91.
Em brinquedos de criança o valor caiu 3,48 euros. Se em 2021 as pessoas gastaram em média 41,37 euros, este ano gastaram 39,93. Relativamente a brinquedos ao ar livre (veículos infantis, casinhas de brincas, trotinetes, trampolins, etc.) no ano passado o valor médio do gasto rondava os 94,86 euros, enquanto este ano gastaram 110,96 – um aumento de 16, 97.
De acordo com KuantoKusta, no top de brinquedos para criança mais procurados estão o My Pet Pig Little Live Pet, Xiaomi Tablet de Desenho Mi LCD 13.5, Clementoni Globo Explora Mundo, Playmobil Sports & Action Campo de Futebol – 71120, Concentra Boneca Kátia Beijinhos, LEGO Creator Expert Orquídea – 10311.
Grande demanda na tecnologia
Num passeio por todos os pisos, é irrefutável que a Fnac (depois da Primark) é a loja com mais movimentação. As filas para pagar já ultrapassam o espaço indicado para as mesmas. Em cada secção, os funcionários tentam dar vazão aos pedidos de ajuda dos clientes. Segundo a KuantoKusta, este ano, tal como em todos os outros, as pessoas procuraram em massa por produtos tecnológicos. No top dos produtos mais procurados estão a Xiaomi Fritadeira 3.5L, o iPhone 13 6.1, a Nintendo Switch OLED White, o Desumidificador Whirlpool, Xiaomi Redmi Note 11 Pro, o FIFA 23 PS4 e os AirPods Pro 2ª Geração.
No que toca à tecnologia, descrimina ainda a empresa, os gamers gastaram mais 222,86 que no ano passado. Com um preço médio de 165,30 euros.
Os jogos Nintendo Switch, por exemplo, custaram +427,52% (43,19 euros), as consolas Xbox +378,36% (584,95 euros) e os acessórios para PlayStation +335,85% (40,28 euros).
Na categoria de Lifestyle os portugueses gastaram em média 41,41€, menos 1,63%. Em Moda e Acessórios o custo foi de 50,23 euros, com as sapatilhas a custar em média + 143,5% (53,19 euros), as malas e bolsas +210% (38,15 euros) e os relógios + 439% (66,23 euros). Já para não falar da PS5 que tem estado quase sempre esgotada desde o seu lançamento, sendo necessário reservá-la através da internet. Estas possuem o valor base de cerca de 600 euros, podendo chegar até aos 1200 euros. Por fim, nos perfumes e produtos de beleza, as pessoas gastaram 41,38 euros, menos 1% que no ano anterior. Se considerarmos apenas os perfumes, há um aumento de 7,4%.
Qual o comportamento do consumidor?
Após as alterações que a pandemia impôs ao comportamento do consumidor no Natal de 2020 e 2021, o Instituto Português de Administração de Marketing (IPAM) analisou em 2022 os impactos da crise económica global nas compras de Natal dos portugueses.
O estudo realizado entre os dias 26 de novembro e 9 de dezembro de 2022 em Portugal Continental, que contou com uma amostra composta por 480 indivíduos, divididos por cinco classes sociais diferentes, concluiu que o valor médio a gastar em compras de Natal é de 377 euros. No estudo realizado em 2021, com uma amostra com características idênticas, o valor era de 398€ (este valor varia em função da classe social). No estudo, 42% dos inquiridos, referiam que irão gastar um valor menor em compras neste natal, reduzindo nas ornamentações de natal e nos presentes para adultos. Apesar de menos significativo, 32% dos inquiridos afirmam que farão reduções nos produtos alimentares específicos de Natal. (ver página 22 e 23) Já a Escolha do Consumidor realizou um estudo online para analisar as preferências, tendências e hábitos dos consumidores nesta época, observando-se que a maior parte (39%) planeia gastar entre 100€ a 250€ em presentes e 29% entre 250€ a 500€. Apenas 9% planeia gastar mais de 500, enquanto 23% prefere reduzir os custos e gastar até 100€. Além disso, a Escolha do Consumidor também questionou a quantas pessoas os consumidores iriam oferecer prendas de Natal este ano: 46% respondeu entre 5 a 10 pessoas, 27% apenas até 5 pessoas e outros 27% pretende oferecer a mais de 10 pessoas. 41% dos consumidores optará por oferecer roupa e acessórios de moda, 16% irá comprar brinquedos para oferecer, 14% está mais inclinado para a compra de tecnologia e 10% prefere comprar produtos ou experiências de beleza e bem-estar.
Joana Andrade tem 41 anos e é mãe de quatro filhos, dois rapazes e duas raparigas, entre o 1 e os 8 anos. Além disso, é irmã mais velha de sete e tia de catorze.
«Cinco monovolumes. Sete beliches. 347 peças de lego espalhadas pela casa, a convidar que alguém as pise descalço. Estes são apenas alguns dos números da nossa família numerosa, a que acrescento os 37 – acabei agora mesmo de contar – presentes de Natal para este ano, felizmente quase todos escolhidos», conta ao Nascer do SOL. Parece muita coisa, mas, segundo a mesma, com a dose XL de organização e de sentido prático, obrigatória a qualquer família numerosa, «tudo se faz, com maior ou menor dificuldade». Quando faz a lista de Natal parte sempre do princípio que os melhores presentes já foram – e continuam a ser – dados: «Irmãos para brincar, primos para encenar presépios, sobrinhos para abraçar e netos para mimar». «Numa época que sempre foi vivida de uma forma muito especial em família, tudo o resto é lucro, mesmo que esse lucro nos saia da carteira a uma velocidade ainda maior este ano», lamentou. Ao contrário do que se possa pensar, o problema aqui «não são os presentes para as crianças». Até porque, para Joana, ter quatro filhos não tem de passar por comprar muitos Nenucos, Barbies, Hot Wheels ou Legos. «O Natal para os miúdos cá de casa significa quase sempre roupa, que lhes esteja a fazer falta porque crescem a um ritmo vertiginoso, e livros, porque ler faz sempre falta. Por isso, não são os brinquedos que me obrigam a estar sempre a ver o saldo no cartão. Não. Este ano, as contas que preocupam não são tanto aquelas para as quais se pode pedir talão de troca», admite. «É a margarina para as rabanadas. O óleo para os sonhos. O azeite para o bacalhau. O gás para assar o peru. A eletricidade para as luzes da árvore. A água para tantos ‘puxar’ de autoclismo e lavar as mãos. O gasóleo para ir a Alcobaça no dia 25. Estas são as contas que em 2022 nos obrigam a fazer contas à vida», acrescentou. «Seja uma família numerosa ou não. Valha-nos a alegria de saber que os melhores presentes já foram dados», remata.