O prazer de insultar

Outras pessoas, que apregoam a liberdade de expressão, a igualdade e a inclusão, saltam sem se ensaiarem muito para cima de quem pensa de forma diferente da sua.

Um dia destes falava com os meus amigos sobre a facilidade e maldade com que algumas pessoas comentam os artigos de opinião ou algumas notícias. Um dos meus amigos, o João, dizia que devemos tirar o melhor da pior crítica. Enquanto outro, o Pedro, defendia que o mais sensato era não ler os comentários. Parece-me que o primeiro é mais idealista mas, infelizmente, é o segundo que parece estar mais próximo da realidade…

Todos temos e devemos ter uma opinião. Pelo menos em relação ao que nos interessa. Só a troca de ideias contra ou favor pode trazer novidade e fazer o mundo avançar. Penso que era nesse sentido que para o meu amigo João as críticas e comentários podiam trazer alguma coisa de positivo. Foi com certeza essa a razão por que foram criadas as caixas de comentários online. Mas aquilo que poderia ser um espaço fértil de encontro e troca de ideias torna-se muitas vezes um depósito de insultos e má-criação, nada adequado ou construtivo. O objetivo não é pensar ou criticar, muitas vezes é basicamente ofender, não é o conteúdo da notícia ou opinião que é importante, mas simplesmente poder atacar alguém. E rapidamente os comentadores entram também em conflito e trocam insultos entre eles.

 

Aquilo de que a plateia encolerizada não se apercebe, no seu descontrolo, é que muitas vezes o seu comentário ultrapassa o que critica no autor do artigo. Algumas pessoas pensam simplesmente que tudo é permitido. Queixam-se dos adolescentes que são mal-educados, mas nestas situações são sobretudo os adultos que não preenchem os requisitos mínimos das regras da educação e de civismo.

Outras pessoas, que apregoam a liberdade de expressão, a igualdade e a inclusão, saltam sem se ensaiarem muito para cima de quem pensa de forma diferente da sua.

E quando está em discussão algum assunto mais em voga a caixa de comentários transforma-se mesmo num produto perigoso e explosivo.

Consigo compreender que haja opiniões manifestamente controversas. Podem mesmo ser opostas às nossas. E também há quem aja de forma indiscutivelmente errada. Mas é importante não esquecer que, para a justiça, até um homicida é considerado inocente até que se prove o contrário. No entanto, muitas das pessoas que leem os jornais não precisam de provas, agarram com unhas e dentes a oportunidade e atiram-se impiedosamente à vítima.

 

O mais caricato é que há quem tenha o instinto sanguinário tão aguçado que nem perde tempo a abrir a notícia ou o artigo e fica-se pelo título ou o destaque, acabando por criticar o que supõe estar lá dentro e não o verdadeiro conteúdo do texto.

O que me preocupa não são as opiniões opostas, sejam elas quais forem. É a falta de compaixão, a agressividade extrema e a falta de educação de algumas pessoas. E também não se incomodarem de ter o seu nome associado aos maiores impropérios. De onde vem todo esse ódio e rancor? Às vezes até em relação a coisas simples e inofensivas. O que se passa para que se dediquem a ofender outras de forma tão gratuita? Mas há quem veja isso como uma medalha. Passa-se algo de preocupante com quem tem prazer em insultar e rebaixar os outros. Quem está bem não tem necessidade nem perde tempo a lançar ódio de forma tão gratuita.

Que 2023 traga maior compreensão e bom senso, maior tolerância, respeito, compaixão e solidariedade, que são valores muito apregoados, mas pouco praticados.

Um excelente Ano Novo!