Gorducho, alegrete, adorava cavalos e era proprietário de alguns de boa cepa. Cavalos de corrida, está bem de ver. José Antonio Remón era uma figura estimada, apesar de coronel do exército – toda a gente sabe que ninguém gosta de escrever aos coronéis. Naquele preciso momento estava eufórico: um dos seus equídeos acabara de vencer uma das provas disputadas no hipódromo Juan Franco – agora chama-se Hipódromo Coronel José Antonio Remón – quando um grupo de fulanos armados até aos dentes começou a romper espaço pelo meio da multidão exibindo metralhadoras. Não tardou que começassem a ouvir-se tiros. O alvo estava há muito definido, Remón não teve qualquer hipótese – ainda por cima volumoso como era – e caiu varado a balas, tal como um dos seus seguranças pessoais. Os relógios da Cidade do Panamá registavam precisamente 19h00. O que, diga-se de passagem, é uma hora tão boa para morrer como qualquer outra. Trinta minutos mais tarde, o Estado de Sítio implantou-se. Não havia uma simples viela da cidade que escapasse ao controlo da polícia. Uma autêntica caça ao homem.
O primeiro a ser caçado – e acusado de estar envolvido no plano de assassinato foi o anterior Presidente do país, Arnulfo Areas. Se era culpado, não parecia. Gozava uma noite de tranquilidade com a família e uns amigos na sua propriedade de Boqueta, a 450km da capital, quando a Guardia Nacional lhe invadiu a sala de estar e o levou agrilhoado para ser ouvido por um juiz.
Pelo caminho, uma misteriosa mulher andava nas bocas do povo. Acreditava-se que a senhora, elegante e bem vestida, que dera nas vistas no hipódromo, tivesse servido como porta de entrada aos revoltosos, franqueando-lhes o acesso à tribuna presidencial onde descarregaram as suas pistolas metralhadoras sobre Remón. Por seu lado, Robert Heuttermate, inspector-geral do governo panamiano, de visita aos Estados Unidos, não conseguiu manter-se calado, aumentando a confusão: “O Presidente já sabia há várias semanas que se preparava um conjura contra a sua pessoa mas não era homem para dar parte de fraco ou fugir dos acontecimentos. Nunca faria isso”.
Entre dar parte de fraco e exibir-se de peito feito no hipódromo da Cidade do Panamá havia uma diferença bastante razoável. Mas cada um com a sua mania. Entretanto surgiam os nomes de mais vítimas, como era o caso do muito chorado jogador de basebol Carlos Benitez. Aliás, Benitez era bem mais popular do que Remón, já agora.
Misteriosa A misteriosa dama estava metida numa camisa de onze varas. Houve mesmo gente que a reconheceu como a última pessoa a dirigir palavra ao Presidente, tendo-se em consideração que esse momento de descontração serviu para que a segurança oficial baixasse a guarda. Mas diziam-se coisas a mais nessa noite de terror no Panamá. Outra personalidade que encontrou a morte foi o nadador olímpico Danilo Sousa, vitimado com um tiro na cabeça. Danilo terá sido apanhado pelo fogo cruzado mas a imprensa não tardou a sublinhar que se tratava de um apoiante incondicional de Arnulfo Arias e que a sua presença nessa noite no hipódromo não era fruto do acaso. Ou seja, tudo parecia servir para criar ainda mais confusão em redor da morte do coronel.
As tropas norte-americanas que asseguravam a tranquilidade na zona especial do Canal do Panamá tiveram ordens explícitas para se espalharem pela cidade – segundo o embaixador dos Estados Unidos iriam acompanhar os soldados afetos ao Presidente assassinado na manutenção de um estado de paz na capital, evitando que surgissem os habituais saqueadores que aproveitam sempre o caos para invadirem os espaços comerciais e levarem tudo o que lhes for possível.
O Panamá vivia, desde há vários anos, uma inquietação política e social que escalou de forma brutal perante o extremar de posições de Arias e Remón que, como era prática nas repúblicas centro americanas excessivamente dependentes da intervenção dos Estados Unidos, tinham começado por ser leais companheiros. Quanto à mulher, recusava-se a dizer uma palavra que fosse, mesmo a despeito das ameaças. Trazia uma pistola na carteira. Provavelmente para o caso de resolver suicidar-se…