A Basílica de São Pedro, no Vaticano, recebeu dezenas de milhares de crentes que pretendiam despedir-se uma última vez do antigo Papa, Bento XVI, que faleceu no passado sábado, aos 95 anos, depois dos problemas de saúde, que já o tinham levado a abdicar do cargo em 2013, terem piorado.
Quando as portas da Basílica foram abertas, centenas de pessoas já se encontravam a fazer fila para prestar a sua homenagem a Joseph Aloisius Ratzinger, que viveu os últimos anos em reclusão, num mosteiro no Vaticano.
Entre as primeiras pessoas a entrar na Basílica estavam o Presidente italiano, Sergio Mattarella, e a primeira-ministra de extrema-direita, Giorgia Meloni. Quanto à presença do Presidente português, o próprio Marcelo Rebelo de Sousa confirmou que iria estar no evento, mas apenas a título pessoal, uma vez que o Vaticano apenas confirmou representação oficial de Itália e Alemanha.
Entre os visitantes, os sentimentos são de respeito, com diversos presentes, entrevistados pela BBC, a descrever a experiência como “humilde” e “bela”. Um homem que organizou uma peregrinação até ao velório descreveu Bento XVI como um “avô papal”.
O funeral do antigo Papa vai realizar-se apenas na quinta-feira, na Praça de São Pedro, e será conduzido pelo seu sucessor, Papa Francisco. Bento ficará sepultado num dos túmulos da cripta da Basílica de São Pedro.
Este será diferente dos habituais funerais papais. Em primeiro lugar, porque não haverá lugar à típica eleição para escolher um novo líder da Igreja Católica – dado que Bento resignou, tendo sido o primeiro pontífice a fazê-lo em 600 anos –, mas também porque irá decorrer de forma “solene, mas simples”.
Até lá, Bento XVI, cujo corpo foi colocado na nave central da Basílica de São Pedro, em frente ao chamado altar da confissão, ao lado do famoso dossel de Bernini, utilizando umas vestes matinais vermelhas, num caixão coberto com um pano dourado, protegido por dois guardas suíços, será visitado por fiéis, durante exibições públicas que vão decorrer durante 12 horas na terça e quarta-feira. Na segunda-feira o corpo apenas esteve em disposição para o público durante dez horas.
Ser ou não ser um santo A questão da beatificação de Bento XVI é algo que divide os fiéis da Igreja Católica.
“A fila está a mover-se de forma constante e há uma atmosfera calma e serena”, descreveu o correspondente do Vaticano para o National Catholic Reporter, Christopher White, ao Guardian. “Aqueles que estiveram na fila durante horas antes de permitirem visitas são o tipo de pessoa que tinha uma grande devoção por ele”, explicou.
“Para um certo tipo de católico, Bento XVI tinha um apelo muito forte. Tinha uma reputação de intelectual, estudioso e teólogo, o que ressoou entre os católicos com uma mentalidade mais aberta. O ponto central para os crentes é que ele foi uma das maiores mentes que a Igreja já teve e têm toda a confiança de que um dia será um santo”, acrescentou o correspondente.
Apesar de existir uma importante fação que admira o antigo Papa pelo seu conhecimento teológico, tendo inclusive vendido milhões de livros sobre este assunto, muitos questionam o seu comportamento para agir contra os padres que efetuaram abusos sexuais a menores, mas também pelas suas críticas à comunidade homossexual ou por ter bloqueado a ordenação de mulheres.
“Ver imagens de pessoas na fila, a passar pelo corpo e a chorar deixa-me doente”, disse a porta-voz da Catholic Women’s Ordination, citada pelo jornal inglês. “Para os sobreviventes de abuso clerical, isto deve trazer memórias más de volta. Este homem poderia ter feito algo, mas não fez nada. Também é difícil para as mulheres que não podem por em prática a sua vocação no sacerdócio. Tanto sofrimento foi causado por esta igreja e ainda assim ela tem este poder… é quase como uma lavagem cerebral, as pessoas estão totalmente cegas, elas apenas veem esta figura hierárquica como infalível”.