por Aristóteles Drummond
Um final melancólico para um político que recebeu 58 milhões de votos, com pelo menos um terço de fiéis seguidores. Mas, derrotado, Bolsonaro não teve o gesto de aceitar o resultado que só ele e seus mais fiéis contestam. Refugiou-se no Palácio da Alvorada, saiu duas vezes para ir ao gabinete e cinco para solenidades militares. Pouco falou e no último dia prestou contas, visivelmente deprimido, numa live e nem uma palavra sobre a viagem que faria a seguir. Não renunciou formalmente ao cargo, apenas o abandonou e foi em aeronave da Presidência para a Florida. Não fosse um governante isolado, solitário, teria quem sugerisse viajar em avião de carreira. Saiu tendo um último ato criticado, contestado e que pode ser cobrado. Não se tratava de viagem oficial nem a seu endereço no país, que lhe daria este direito. Triste final de um homem que, apesar de limitações comportamentais, fez um bom governo. O Brasil teve desempenho melhor do que os países mais desenvolvidos em termos de inflação, emprego e crescimento diante da pandemia e da crise. Tivesse moderado sua agressividade, a geração diária de polémicas e as brigas pessoais e institucionais, teria sido reeleito com facilidade. Errou na política, ignorando políticos, não tendo feito alianças e até o seu vice foi um discreto e desconhecido militar que não lhe acrescentou nem um voto. Seus auxiliares diretos eram pessoas sem experiência, cultura, sem o menor preparo para cargo de assessoria. Lacaios simplesmente. A depressão parece ser resultado desta realidade: ele foi o único responsável pela sua derrota e a entrega do país a um grupo político com um passado nada recomendável. Quem viver verá o que vai acontecer.
Variedades
• Mais 14 ministérios foram criados por Lula da Silva no primeiro dia de Governo. Em nome da pluralidade e dos compromissos de campanha, foram criados, entre outros, Ministérios como: 1 – dos Portos e Aeroportos; 2 – Direitos Humanos; 3 – Igualdade Racial; 4 – da Mulher. Assim, o Presidente procurou contemplar mulheres e negros. As críticas ainda estão moderadas, mas há um certo constrangimento entre os que não têm a rigidez ideológica do PT. Um contraste com Bolsonaro, que diminuiu em mais de 50 mil os funcionários públicos em seu Governo.
• Hotelaria do Rio está comemorando o final de ano de ocupação plena. O turismo pode provocar a volta de voos internacionais para a cidade, atualmente limitados à TAP, Air France-KLM, com frequências diárias para Europa. A Ibéria voltou a pousa no Rio, mas uma vez por semana.
• Argentina e México não reconhecem o governo do Peru, exercido pela vice de Pedro Castillo, afastado após tentar fechar o Congresso. A presidente Dina Boluarte convocou eleições antecipadas para abril.
• O ponto alto da posse de Lula da Silva foi a presença de delegações de 52 países, sendo que 17 chefes de Estado ou de governo. Cuba, Angola, Moçambique e Timor com os presidentes. E os bolivarianos todos, menos Maduro, representado pelo presidente da Câmara.
• Morreu aos 96 anos, em Minas, o engenheiro Gabriel Andrade, que, com o irmão Roberto, fundou a Andrade Gutierrez, empresa brasileira de presença internacional. O último de uma geração que fez da engenharia brasileira estar entre as maiores do mundo.
• O governador de Minas, Romeu Zema, assumiu o novo mandato reiterando sua convicção liberal para o progresso e o bem-estar social. Zema pode ser o candidato conservador em 2026.
• Especulações apontam para oferecimento de Lula a Sócrates para que passe a ter residência no Brasil.
• Nos meios empresariais tem sido lembrada uma frase do genial Roberto Campos quando da eleição de 89, em que Lula perdeu para Collor de Mello. Na ocasião, Campos afirmou que, eleito, «Lula mataria os ricos de raiva e os pobres de fome». Brasil muito maior não resiste a políticas hostis ao capital.
• O vice de Bolsonaro e senador eleito, General Hamilton Mourão alvo de críticas grosseiras por dois dos filhos de Bolsonaro por ter reconhecido a vitória de Lula.
Rio de Janeiro, janeiro de 2023