Lembro-me de certa vez, há vários anos, quando ainda não era mãe, assistir a uma cena que me impressionou, mas que tenho vindo a perceber que é recorrente.
Uma criança pequena chegou a casa de um familiar de chucha na boca e um tio disse-lhe com alguma rispidez: ‘De chucha! Que grande porcaria. A chucha não presta, é suja, vou deitá-la no lixo’. E tirou-lha. A criança, naturalmente, irrompeu num enorme pranto.
Muitos adultos veem a chucha como uma coisa feia ou um sinal de fraqueza e só a concebem para bebés pequeninos. Ou nem isso.
Há pais que não querem que os filhos usem chucha e nunca lha chegam a oferecer, mesmo quando procuram conforto através do reflexo de sucção. Sabemos que até estar estabelecida uma boa amamentação não se deve oferecer a chucha a um bebé, porém há quem prolongue esta desculpa durante meses ou ache simplesmente que o filho se deve bastar a si próprio e que não deve depender dessas coisas para se acalmar. No entanto, a decisão de se acalmar através deste reflexo não é dos pais, é uma necessidade do bebé, que muitas vezes começa a fazê-lo ainda na barriga da mãe. Por isso os pais só podem decidir se, tendo esta necessidade, os filhos vão usar chucha ou arranjar uma alternativa para a satisfazer. Muitas vezes quando percebem que o filho passa a vida de dedo na boca, a chuchar na língua ou a ranger os dentes arrependem-se de não lhe terem oferecido uma chucha…
Os bebés e as crianças pequenas têm dificuldade em acalmar-se sozinhos – bom, e alguns adultos também – e este hábito não é mais do que um recurso inato de autorregulação, segurança e de prazer. Negar ou tirar a chucha a uma criança não é fazê-la crescer, é negar a sua ansiedade em algumas alturas e a sua necessidade de se acalmar sozinha. Retirá-la antecipadamente só a faz crescer aos olhos dos outros, por isso é um ato egoísta, e fazer da chucha um motivo de conflito e vergonha só criará mais ansiedade e regressão. Nesses casos não é a criança que deixa de ter necessidade de usar chucha, mas os pais que não gostam de a ver crescer com ela. Naturalmente que a chucha não deve servir de rolha ou substituir o colo, a compreensão e o carinho dos pais, mas há alturas em que mesmo com tudo isso os mais pequenos gostam de ter este hábito, que lhes dá mais conforto e segurança, por exemplo ao adormecer.
Não há uma idade ideal para deixar a chucha, porque cada criança tem necessidades diferentes. O seu uso deve começar a ser reduzido à medida que crescem, até porque além de sentimentos de vergonha, pode levar a alterações na dentição. Mas deve ser feito com sensibilidade e bom senso. Se a criança já for mais velha e continuar a usá-la devemos perceber o que se passa. O problema não estará certamente na chucha, é para a criança que devemos olhar. Se houver alguma ansiedade não é retirando a chucha que ela irá desaparecer. Ou seja, a chucha não é o problema, mas o recurso encontrado para o apaziguar. Com amor, tempo e calma a criança acabará por a deixar. Como dizem os populares, certamente não sobe ao altar de chucha. Ou pelo menos julgo que nunca aconteceu. Já em relação a outras ansiedades e inseguranças não se pode dizer o mesmo.