O livro de memórias do príncipe Harry continua a gerar críticas. Desta vez são os veteranos militares britânicos que acusam o Duke de Sussex de “virar as costas” ao exército, após ter descrito que assassinou 25 talibãs quando serviu nas forças armadas britânicas.
O coronel Richard Kemp, antigo oficial do exército britânico, alertou que as declarações feitas em Spare, autobiografia do Príncipe Harry, podem colocar a vida do monarca em risco.
“A declaração de que ele matou 25 pessoas poderá voltar a incitar as pessoas que desejam o seu mal”, disse o coronel inglês. “Vamos torcer para que não tenham sucesso, tenho a certeza que ele tem uma segurança muito boa, mas isto não deixa de ser um problema”, acrescentou.
Kemp lamentou ainda a forma como o príncipe descreveu a forma como os soldados britânicos realizam um treino para retirar a sensibilidade às suas tropas.
“O outro problema que tenho com os seus comentários foi a forma como afirmou que o exército britânico basicamente o treinou e aos outros soldados para ver o seu inimigo como menos que humano, como peças de xadrez num tabuleiro que precisam de ser removidas, o que não é o caso. É o oposto disso”, acrescentou, referindo a expressão utilizada por Harry para descrever os “inimigos” talibãs.
Estas afirmações foram inclusive condenadas pelos líderes do grupo insurgente.
“Senhor Harry, aqueles que matou não eram peças de xadrez, eram seres humanos que tinham famílias”, sublinhou o alto responsável do regime talibã Anas Haqqani, que acusou o príncipe de ter cometido crimes de guerra. “Mas, na verdade, é o que diz: o nosso povo inocente era como peças de xadrez para os seus soldados e para os seus líderes militares e políticos. Mas, apesar de tudo, perdeu esse ‘jogo’”, acrescentou.
“Estes crimes não se limitam a Harry, mas a todas as potências ocupantes que cometeram tais crimes no nosso país. Os afegãos nunca esquecerão os crimes dos ocupantes”, escreveu o porta-voz do governo afegão, Bilal Karimi, na sua conta pessoal de Twitter.
Na sua autobiografia, que foi publicada primeiro em Espanha, o Príncipe descreve que “não sentiu orgulho” no número de mortes que provocou, “mas também não ficou envergonhado”.
“Quando mergulhei no calor e na confusão da batalha, não pensei neles como vinte e cinco pessoas. É impossível matar alguém se os virmos como pessoas”, explicou. “Elas eram peças de xadrez que precisavam de ser retiradas do tabuleiro, bandidos eliminados antes de matarem bons rapazes”, acrescentando que o exército britânico o treinou para olhar para os inimigos como “outros” e que o “treinou bem”.