por Pedro do Carmo
Presidente da Comissão de Agricultura e Pescas
Em cada época de incêndios, o país sobressalta-se com o risco de incêndio, questiona as opções das espécies plantadas, lamenta a desertificação populacional dos territórios, em especial, os do Interior, e indigna-se com a perda de património natural que resulta das ignições, pela destruição dos ecossistemas, da paisagem e de ativos importantes da economia nacional.
A floresta está sujeita a uma conjugação de fatores que precisam de ser modelados e invertidos, com ambição e sentido prático do futuro.
Mudar o foco da exclusiva preservação ambiental para a valorização económica da floresta é decisivo para mudar de paradigma e ter melhores resultados. A floresta tem de ser um ativo patrimonial rentável. Tem de ser estruturada e cuidada no pressuposto de que, para além da dimensão ecológica e da preservação da natureza, existem ganhos para quem se ocupe dela com cabeça, tronco e membros. Também aqui, os fundamentalismos ambientais são dispensáveis. O ponto é o equilíbrio, um novo ponto de compromisso, que conjugue a preservação, a biodiversidade e a adequada remuneração pela atividade de aproveitamento das espécies plantadas. Se a floresta dá um contributo para a redução da pegada ecológica, para a descarbonização e para o cumprimento das metas, esse contributo tem de ter um reconhecimento, um valor e uma remuneração que gere incentivo à generalização da atividade.
O património ambiental é um ativo fundamental do país, um pilar importante da biodiversidade e uma marca da nossa identidade na medida em que contribuiu e contribui para as vivências e as tradições das populações e dos territórios. A paisagem, a cobertura vegetal, é parte do que somos como país com identidade própria. O problema é que os guardiões das florestas, dos cobertos vegetais e florestais de boa parte do país, deixaram de estar presentes, nuns casos pela desertificação populacional, noutros porque a atividade deixou de estar associada a toda uma economia e aproveitamento integrado dos recursos. No passado, da floresta extraía-se todo um conjunto de recursos utilizados nos quotidianos e em grandes momentos das comunidades.
Esse sentido económico perdeu-se e foi desvalorizado, impondo-se a quem tem territórios florestais despesas e responsabilidades sem um retorno atrativo.
O ponto passa por reconhecer na dimensão de preservação da natureza e de valorização do coberto florestal um valor que transforme o impulso numa atividade atrativa, com rentabilidade.
O desafio é conseguir conjugar um reconhecimento ao contributo para a biodiversidade e as metas ambientais que resultam da silvicultura com uma valorização económica da atividade. A floresta além do eucalipto tem de ter retorno para quem investe, trabalha e cuida das manchas florestais.
Ter um Montado no Baixo Alentejo bem tratado, integrando atividades económicas como a da fileira do porco alentejano, com incorporação de valor na criação de produtos alimentares únicos, para além da venda dos animais ou da carne, tem de ter um retorno de contributo ambiental, de preservação da paisagem e de proteção da biodiversidade.
O desafio, uma vez mais, é somar, não subtrair ou proibir. Na floresta, conjugar a preservação ambiental com a valorização dos diversos ecossistemas de silvicultura, reintroduzindo valor económico real em todos eles para que sejam atrativos. Cuidar tem de valer a pena, ter retorno, além da dimensão ambiental.